“Considero um absurdo a forma com que tudo aparece misturado”. Por Maria do Rosário

Atualizado em 14 de abril de 2017 às 8:23
Maria do Rosário

POR MARIA DO ROSÁRIO

Meu nome é Maria do Rosário, tenho 50 anos, sou professora e, com muita responsabilidade, exerço o mandato de deputada federal pelo Rio Grande do Sul. Já fui sindicalista, vereadora, deputada estadual e ministra de Estado. Quase toda minha vida é dedicada à militância por causas que acredito.

Ainda criança, saí do interior com a minha família rumo à capital em busca de melhores condições de vida. Vi meus irmãos mais velhos tendo que trabalhar desde muito cedo para ajudar em casa, assim como eu. Meu ambiente é o de gente trabalhadora e honesta.

Durante os 24 anos em que ocupo funções públicas, eleita democraticamente para tal, já vivenciei muitas situações de conflito. Me forjei na luta e não fujo dos bons combates, pois tenho essa responsabilidade como cidadã e como mulher pública que sou. Como alguém que tem posicionamentos e representa causas. Sou e continuarei sendo uma intransigente defensora da liberdade, dos valores humanistas de mundo, do respeito como eixo norteador das relações.

Já vivenciei e estive em meio a muitas situações humanas que revoltam, entristecem, chocam e desafiam nossa força pra seguir em frente. Mediei conflitos em que cheguei a colocar a vida em risco para evitar tragédias. Olhei nos olhos opacos de muitas meninas que foram vítimas da crueldade da violência sexual e segurei nas mãos de muitas mães revoltadas com a violência que abreviou a vida de seus filhos. Nesses momentos sempre me senti fortalecida pra transmitir algum sinal de esperança e de justiça para essas pessoas.

Nos últimos anos, passei a ser criminosamente atacada por conta do trabalho que exerço. Embora seja cansativo lidar com uma sistemática e profissional campanha difamatória, jamais recuei. Sigo firme nas mesmas causas e com a mesma capacidade de me revoltar e insurgir contra as injustiças. O que me move não é mera teimosia, ou a busca de nada pessoal, mas a consciência de que uso a palavra em nome de muitos que não tem a quem gritar seus direitos e denunciar o que sofrem. Creio que essa postura é a grande responsável por eu ter muitas pessoas que apoiam minha atuação e também muitas que discordam, mas uma grande maioria que me respeita.

Na última terça-feira confesso que fiquei indignada. Achei que ao longo de todos esses anos eu já tinha preparo para lidar com qualquer tipo de situação. Esse sentimento já havia sido abalado recentemente quando passaram a atacar minha família. Mas ter meu nome citado irresponsavelmente no atual contexto, com levantamento de suspeita de que numa campanha não houve registro de recursos doados, me deixou sem chão. Nunca pisei o terreno da mentira e do uso de recursos sem registro.

Considero um absurdo a forma com que tudo aparece misturado. Não aceito meu nome ao lado dos que têm vultuosas somas na Suíça e paraísos fiscais. Sou uma pessoa com bens estritamente dentro das possibilidades de meus ganhos.

Tenho a tranquilidade de defender minha história com a consciência de quem não cometeu nenhum crime. Farei isso na justiça. Mas para mim não basta. Considero que tenho o dever de explicar-me à população. Não deixei de expressar meus posicionamentos em nenhum momento, de demonstrar minha indignação perante a essa grande injustiça, de colocar todas minhas contas e informações à disposição do Poder Judiciário. Reitero que todas as informações necessárias para rápida apuração que as autoridades considerem importante, estão desde já disponíveis. Sou a maior interessada de que isso se esclareça logo.

Porém, esse desabafo eu preciso fazer com vocês, com quem me conhece, com quem concorda e com quem discorda das minhas posições: não sou e nunca fui uma pessoa que se envolveu com coisas erradas. Tenho padrões de decência muito firmes em minha vida. Não tenho nenhum compromisso com ilegalidades. Embora me impressione as formas crueis e mentirosas que esses ataques acontecem, não arredo pé dos meus compromissos e da honestidade que permeia minha vida. Lamento que o que se vê no Brasil não seja justiça, mas a destruição de biografias e o peso diferenciado e seletivo das ações contra os representantes dos setores populares.

Estou tomada por indignação. Que a justiça seja feita. E que a verdade prevaleça.