
O União Brasil pagou cerca de R$ 730 mil em recursos públicos ao contador José Edjackson da Silva, profissional do escritório Rueda & Rueda Advogados, comandado pelo presidente da legenda, Antônio Rueda, e por sua irmã, Maria Emília Rueda, tesoureira do partido. O contador passou a cuidar também das contas da sigla após indicação do próprio dirigente, acumulando funções dentro e fora da estrutura partidária. Com informações da Folha.
De acordo com relatórios de prestação de contas, Edjackson recebeu R$ 175 mil em 2022, R$ 242 mil em 2023 e R$ 312 mil em 2024. O partido informou, em nota, que as contratações seguem as normas legais e que o contador atua “de forma independente, com contratos distintos e sem conflito de interesses”. Documentos que comprovem separação dos pagamentos, porém, não foram apresentados.
A Fundação Indigo, vinculada ao União Brasil, também bancou passagens aéreas do contador entre Recife e Brasília, no valor de R$ 37,5 mil, entre janeiro e novembro de 2024. A legenda justificou que os deslocamentos se referem a compromissos na fundação, onde Edjackson ocupa o cargo não remunerado de diretor financeiro. O profissional, considerado aliado próximo de Rueda, chegou a ser nomeado presidente da comissão provisória do partido em Pernambuco no ano passado.

O caso ocorre em meio à pressão sobre o presidente do União Brasil, citado em investigação da Polícia Federal após o piloto Mauro Caputti Mattosinho afirmar que Rueda seria o verdadeiro dono de quatro aeronaves operadas por uma empresa associada a suspeitos de lavar dinheiro para o PCC. O partido atribuiu a repercussão à influência do Palácio do Planalto, por conta da ligação de um dos autores da reportagem com a TV Brasil.
O especialista em direito administrativo Carlos Ari Sundfeld, da FGV, afirmou que o caso merece atenção da Justiça Eleitoral. Segundo ele, “não há ilegalidade em contratar a mesma pessoa para diferentes funções, mas a prática é inconveniente e contrária a princípios de governança”. Sundfeld destacou que esse tipo de relação “aumenta o risco de sobreposição de interesses e prejudica a independência das funções técnicas”.
Em nota, o União Brasil afirmou que reduziu suas despesas em 61% entre 2022 e 2024 e que a reestruturação contábil gerou economia de R$ 1,2 milhão por ano. A sigla reforçou que atua com transparência, dentro da legalidade, e que suas contas são prestadas regularmente à Justiça Eleitoral.