Continuaremos, distantes ou próximos fisicamente, a dar bom dia a Lula. Ele nos ouvirá. Por Cristina Dantas

Atualizado em 11 de abril de 2018 às 15:59

 

A foto que foi para a capa de “Entreatos”, de João Moreira Salles

Publicado no Facebook da jornalista Cristina Dantas

Para quem não se lembra, essa é a capa do DVD Entreatos, do documentarista e banqueiro João Moreira Salles, lançado em 2004 (acima).

A certa altura do filme aparece Lula em um quarto de hotel no Nordeste. Bem cedo ele acorda, vê aquela praia linda pela janela e se lamenta: “pena que não tinha um único companheiro pra caminhar na praia comigo”.

Anos depois, em uma palestra que reuniu Moreira Salles e alguns jornalistas no auditório da Editora Abril (eu ainda trabalhava lá, portanto, foi antes de 2010), Moreira Salles citou essa passagem acompanhada de uma observação em tom de crítica.

Ele teria deixado de caminhar na praia por não ter quem o escutasse. E completou: “Lula é um sujeito sem nenhuma subjetividade”. 

Talvez Moreira Salles não tenha se dado conta de algo tão óbvio: era da essência de seu personagem estar rodeado de gente, conversar, debater, trocar ideias, falar.

Do seu ponto de vista de homem muito bem nascido, o banqueiro viu através de Lula, não captou a personalidade do homem com quem havia passado meses para produzir seu filme.

Um homem democrático, que tem o que dizer porque sabe ouvir. Comissário Javert, esse que todos chamam de juiz Sergio Moro, entendeu o recado, tendo ele assistido ao documentário ou não.

Percebeu que era preciso isolar Lula para aniquilá-lo, para reduzi-lo a pó. Por isso lhe destinou uma solitária na República de Curitiba, quase sem direito a visitas.

A militância do presidente sabe disso, conhece os percalços de quem nasceu na ponta oposta à de Moreira Salles. E por isso lhe grita “bom dia” de manhã, e ele ouve.

Continuaremos, distantes ou próximos fisicamente, a dar bom dia a Lula. Sabemos que ele, distante ou próximo, nos ouvirá.