Contra o “comunismo”, Gusttavo Lima recebe R$ 800 mil da cidade mais pobre de RR. Por Nathalí

Atualizado em 24 de maio de 2022 às 15:39
Gusttavo Lima
O cantor sertanejo Gusttavo Lima receberá R$ 800.00,00 para fazer show em cidade pequena no interior de Roraima, São Luiz. Imagem: Reprodução.

Se tem uma coisa pela qual os pseudoartistas que ainda apoiam Bolsonaro – felizmente, são poucos – são obcecados é a Lei Rouanet.

Lembro que uma vez fui a uma exposição de arte, games e quadrinhos seguida de palestra no Rio Vermelho, bairro boêmio de salvador, e um homem careca duas filas adiante não parava de interromper a fala do palestrante para bradar à plenos pulmões: LEI ROUANET!

Até hoje não sei se o bolsonarista era burro ou escroto (perdoem a redundância), mas sempre que vejo um pseudoartista criticando a Lei Rouanet em pleno 2022, lembro do senhor careca de meia idade com problemas de comunicação. É assim que eu os vejo.

Dessa vez foi o cantor Gusttavo Lima que atacou: depois de presenciar uma briga com direito a cadeira arremessada – e continuar pleno, cantando, porque afinal a briga não era na família dele – mandou um recado para o público:

“O que o sertanejo tem de melhor? Nós temos aquilo que o sertanejo gosta que é a simplicidade, o jeito de conversar (…) acordar, dar bênção pro pai e mãe. Isso é a verdade que a gente tem que acreditar. Porque aqui nunca vai ser o comunismo e sim uma democracia.”

Criticar um comunismo fantasma enquanto o capitalismo real mata os brasileiros de fome é uma praxe bolsonarista que, de tão clichê, não vale a pena combater no momento.

O que interessa é que Gusttavo Lima – como tantos outros sertanejos que se comportam como serviçais de Bolsonaro e repetem seus discursos como papagaios de pirata – recebem montantes absurdos de prefeituras pequenas nos interiores do Brasil, sem licitação.

Dessa vez, o sertanejo recebeu nada menos que 800 mil reais pelo show – incríveis 100 reais por cada habitante da pequena cidade de São Luíz, no interior de Roraima.

O que isso significa? Dinheiro público sendo investido sem nenhuma fiscalização – porque nos interiores, onde o coronelismo ainda não acabou, ninguém precisa mesmo de Lei Rouanet: basta usar dinheiro público de forma dispendiosa e desnecessária por debaixo dos panos. Assim é fácil falar que “nunca precisou da Lei Rouanet”.

Outro exemplo de bolsonarista que entra nesse esquema brasileiríssimo (e bastante interiorano), é Zé Neto, da dupla Zé Neto e Cristiano (aquele mesmo que tira foto de p*u duro pra viralizar na internet).

Como ele, há outros vários.

Nas pequenas comunidades do Brasil profundo, bem longe da Lei Rouanet ou de qualquer outra, a mamata ainda rola solta.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.