Contratação de Moro por consultoria é grave no plano ético, afirma Pedro Serrano

Atualizado em 5 de dezembro de 2020 às 9:40
Sergio Moro

Originalmente publicado em REDE BRASIL ATUAL

Por Eduardo Maretti

A contratação de Sergio Moro – ex-juiz e ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro – pela empresa norte-americana de consultoria Alvarez & Marsal (A&M) “é algo grave no plano ético”, na opinião do jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Ele não poderia trabalhar numa empresa que presta esse tipo de serviço a empresas que julgou em casos tão relevantes.”

Ex-condutor da operação Lava Jato em Curitiba, Sergio Moro condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 9 anos e 6 meses de prisão em 2017. “Os casos que ele julgou não são casos quaisquer. Não só levaram empresas à recuperação judicial, mas tiveram extrema repercussão na vida política do país, e também com repercussão mundial. No plano ético, ele não deveria trabalhar”, acrescenta Serrano.

Na opinião do professor da PUC, não se pode, a priori, dizer que há ilegalidade na conduta de Moro e sua relação com a A&M. “Mas é preciso que se investigue. Sem dúvida alguma, ao meu ver, é antiético”, afirma Pedro Serrano.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) pediu que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigue, segundo ele, eventual prática de corrupção por parte do ex-juiz federal.

Moro tornou-se sócio-diretor da consultoria norte-americana, especializada em recuperação judicial e gestão de ativos. Dentre seus clientes, estão as empreiteiras Odebrecht e OAS, que entraram em recuperação judicial após virarem alvos da Lava Jato.

Economia devastada

A força tarefa é acusada por analistas de ter devastado a economia do país, ao quebrar um dos setores que mais geram empregos. No ano passado, por exemplo, a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed) divulgou que a construção civil vinha, antes da Lava Jato, apresentando desenvolvimentos de escala e tecnológicos, com a geração de empregos, mas, já em 2019, apresentava retração de 28% em relação a 2014, ano em que a operação foi deflagrada.

A Petrobras, por sua vez, foi “totalmente desestruturada”, afirmou a entidade na época. Antes da Lava Jato, as previsões de investimento da estatal previam, para o período 2014/18, US$ 220 bilhões. O plano de investimentos para o quinquênio 2015/19 reduziu esse valor total para menos da metade do anterior e ficou em US$ 98 bi. Já em 2016, a tendência do desmonte se acentuou e o plano quinquenal 2017/20 caiu para US$ 74 bilhões, segundo artigo de Paulo Kliass, doutor em Economia pela Universidade de Paris, em 2017.

No final de 2014, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo já alertava para o perigo que a condução dos processos pela Lava Jato representava para a economia. “Tem de separar as malfeitorias e punir. Tem de substituir a direção das empresas e preservá-las”, disse. “Não se vai reinventar de repente uma grande construtora que participou, por exemplo, de Itaipu e outras grandes obras. Você não vai substituir a memória técnica dessas empresas por outra que se vai inventar na hora”, afirmou à época.