
O governo federal decidiu contratar dois navios de cruzeiro internacionais para suprir a carência de hospedagem em Belém durante a COP30, que será realizada em novembro. Os transatlânticos MSC Seaview e Costa Diadema terão capacidade para receber mais de 6 mil pessoas em cerca de 3,9 mil cabines, oferecendo uma solução emergencial diante da escalada de preços em hotéis da capital paraense.
Apesar da medida, novos desafios logísticos surgiram, já que as embarcações ficarão atracadas no Porto de Outeiro, localizado a 20 km do centro de Belém.
A escolha do porto, situado na Ilha de Caratateua, ocorreu após o governo suspender as obras de dragagem no Terminal Hidroviário Internacional de Belém, que custariam R$ 210 milhões e permitiriam receber navios de grande porte em área central da cidade. Sob alegações ambientais, o projeto foi interrompido em janeiro.
Agora, Outeiro recebe investimentos de R$ 180 milhões para adaptação da infraestrutura, incluindo a construção de um píer de 710 metros, previsto para ser entregue em outubro, poucas semanas antes da conferência.
O deslocamento das delegações entre o porto e o Parque da Cidade, no bairro da Sacramenta, onde ficarão os pavilhões oficiais, é uma das principais preocupações. O governo do Pará estima que o trajeto leve cerca de 30 minutos, mas a conclusão da ponte estaiada ligando Outeiro a Icoaraci será determinante para garantir esse tempo.
Quando visitada no início de agosto, a obra ainda estava em fase estrutural e os acessos seguiam em construção, gerando dúvidas sobre a entrega a tempo. A logística interna preocupa especialistas. A geóloga Aline Meiguins, da Universidade Federal do Pará, alerta que Belém será testada em sua capacidade de mobilidade durante a COP30.

Segundo ela, além do transporte terrestre, o deslocamento hidroviário deve receber atenção redobrada para evitar sobrecarga e acidentes. “É preciso antecipar ações de ordenamento, infraestrutura e orientação quanto à mobilidade”, afirmou.
As obras em Outeiro incluem ainda a instalação de 11 estruturas metálicas chamadas dolphins, destinadas à atracação e amarração dos transatlânticos. Segundo o plano aprovado pela ONU, as acomodações serão liberadas em duas etapas: inicialmente para delegações de países em desenvolvimento, com diárias em torno de US$ 220, e, em seguida, para outras representações e ONGs, a valores que podem chegar a US$ 600 por noite.
No entanto, especialistas apontam que o uso de navios de grande porte transfere impactos ambientais do centro de Belém para uma região mais frágil. Os transatlânticos, mesmo parados, continuam emitindo poluentes e produzindo efluentes.
“Um navio desse porte pode gerar até 300 quilos de carbono por pessoa por dia”, explica Thiago Marinho Pereira, engenheiro da Universidade Federal do Oeste do Pará. O governo assegura que as emissões da COP30 serão compensadas por meio da compra de créditos de carbono.
Outro desafio será o tráfego fluvial. A área de Outeiro concentra barcos de turismo e transporte regular de comunidades como Cotijuba e Combu. A entrada de transatlânticos pode ampliar riscos de colisões, já comuns na região.
Além disso, há preocupação com a pressão turística sobre praias próximas, tradicionais pontos de lazer da população local. A expectativa é que visitantes aproveitem os intervalos da conferência para visitar esses destinos, aumentando o fluxo de embarcações em uma área já sobrecarregada.
Apesar das críticas, o governo argumenta que a medida era a única alternativa viável diante da infraestrutura limitada de Belém. Para especialistas, o desafio agora é equilibrar a necessidade de garantir hospedagem adequada para a COP30 sem ampliar riscos ambientais, sociais e logísticos. Até o momento, a Companhia Docas do Pará e a Secretaria Extraordinária da COP30 não responderam a pedidos de esclarecimento sobre os preparativos finais.