Cor de menino, cor de menina e a lacração na internet. Por Larissa Bernardes

Atualizado em 5 de janeiro de 2019 às 22:23
Miriam Leitão e o marido Sérgio Abranches

A declaração de Damares Alves sobre meninos vestirem azul e meninas vestirem rosa foi um prato cheio para quem acha que vai resolver todos os problemas do mundo com uma postagem no Facebook.

Minutos após a divulgação do vídeo da ministra, a internet foi tomada por fotos de mulheres usando azul e homens usando rosa (ual).

Houve espaço até para Luciano Huck — um dos mais atuantes no golpe de 2016 — dar sua lacrada. A marca de chiclete Trident também entrou na onda, provavelmente de olho no pink money dos consumidores.

Luciano Huck resolveu criticar a ministra de Bolsonaro. Foto: Reprodução/Instagram

O que chama atenção é o fato de, até o momento, não ter havido uma mobilização tão grande, mesmo com a avalanche de retrocessos já criada pelo governo Bolsonaro.

A declaração de Damares causou mais comoção do que, por exemplo, a extinção do ministério da Cultura ou a ameaça de retirar a população LGBT da alçada dos Direitos Humanos.

Quem é mulher, negro ou LGBT, sabe o quanto as chamadas ‘pautas identitárias’ (denominação comumente utilizada para diminuir a importância destas lutas) são literalmente questão de vida ou morte. Mas, infelizmente, muitas vezes acabam caindo na lacração pela lacração.

Mais do que nunca, este é o momento de sairmos da zona de conforto. Precisamos deixar nossas bolhas virtuais e pensarmos em como, de fato, criar uma oposição forte e coerente.

Bolsonaro pode até ter ganhado por causa do WhatsApp e das redes sociais, mas a esquerda — até por não contar com empresários bancando disparo de mensagens em massa — não será vitoriosa se viver apenas de lacrações na web.