Coréia, entre 1950 e 1953

Imagine que o Brasil fosse dividido em dois.  Por potências estrangeiras.

Você tem amigos e parentes do outro lado? Pena.

Bem, é o que aconteceu com a Coréia, em 1945. O resto é previsível: divisões assim são explosivas. O que temos visto nos últimos dias é apenas consequência de um país dividido em dois contra a vontade de virtualmente todos os seus habitantes.  Uma parte ficou sob a tutela da União Soviética e a outra sob controle dos Estados Unidos.

Eram os tempos da Guerra Fria, em que parecia que o mundo poderia ser destruído num conflito nuclear entre soviéticos e americanos. Foi tão precária a divisão que os militares americanos incumbidos de realizá-la utilizaram um mapa da National Geographic. O Paralelo 38 separa as duas Coréias. Hoje, dois terços da população estão no sul e o resto no norte, em que sobrevive uma bizarra ditadura comunista.

A Coréia, entre 1910 e 1945, fora uma colônia do Japão. Como toda colônia, sofreu uma intensa exploração. Derrotado o Japão na Segunda Guerra Mundial, os Aliados tomaram a Coréia dos japoneses. Sob a gerência americana no sul,  muitos japoneses colonizadores permaneceram em seus postos, o que deixou furiosa a população. Em 1950, uma guerra irrompeu entre as duas Coréias.  Por trás do conflito, que durou três anos, estavam Rússia e Estados Unidos.

Também a Alemanha foi separada em duas. Mas passada a Guerra Fria veio a reunificação. Os coreanos continuam divididos.

Nos últimos anos, alguns sinais de reunião têm aparecido. Em algumas competições de tênis de mesa, os coreanos jogaram com um time só.

Mas falta muito para a unificação, como se viu agora.

Como diz Hobsbawn, o grande historiador inglês, nenhum país intervém no exterior pensando primeiro em ajudar os outros. O interesse principal  está sempre no próprio país. Os Estados Unidos tentaram vender ao mundo, por muito tempo, a propaganda enganosa de que eram guardiões planetários da liberdade. Mas, nas muitas guerras que os Estados Unidos moveram nos 65 anos transcorridos desde a capitulação do Eixo, o fator determinante foi sempre o próprio interesse americano.

Isso para não falar nas ações americanas para derrubar governos que  para os Estados Unidos pareciam sujeitos a ceder ao comunismo, como aconteceu em 1964 no Brasil.

As tensões entre as duas Coréias fazem estragos e trazem medo no presente – mas suas raízes estão num passado lastimável em que os Estados Unidos e a Rússia disputavam dominar o mundo.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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