Coronavírus agrava problemas já existentes. Por Zeca Dirceu

Atualizado em 23 de março de 2020 às 17:49
O PIBinho de Paulo Guedes é só um dos problemas

POR ZECA DIRCEU

O Brasil começou 2020, se compararmos com 2013, com rendimento médio dos habitantes 29,2% inferior – em dólares – conforme relato do economista Marcio Pochmann. O nível de rendimento econômico que tínhamos neste ano, está cada vez mais distante de ser recuperado, visto que, atualmente, lidamos com duas pragas: economia neoliberal e coronavírus.

Precisamos lidar com problemas antigos, que se arrastam desde 2019. Temos uma economia funcionando com ajuda de aparelhos, um PIBinho que não cresce, a disparada do dólar, 12 milhões de desempregados, 41% dos trabalhadores na informalidade, mais de 2 milhões de pessoas na fila do INSS; 3,5 milhões na fila do Bolsa Família, R$ 21 bilhões a menos para o SUS (nos últimos 3 anos), graças a emenda constitucional do teto dos gastos públicos n°95, que limita o orçamento destinado à saúde.

Como não fosse suficiente, enfretamos uma pandemia que já matou mais de 12 mil pessoas pelo mundo, com 1546 casos confirmados no Brasil e 25 mortes, e temos um presidente o covid-19 de “gripezinha” e incita manifestações – em um momento onde todos deveriam estar isolados suas casas – pelo fechamento do Congresso cometendo crime de responsabilidade. O coronavirus veio para agravar o quadro de fragilidade, desmontes e retrocessos que o Brasil já estava passando.

A nova e irresponsável ação do governo foi dispensar todos os médicos formados no exterior que ainda não conseguiram fazer o Revalida. Esses profissionais faziam parte do 13º ciclo do Programa Mais Médicos e foram contratados por um período de três anos, conforme o edital, renováveis por mais três anos, afim de atuar em cidades carentes. São médicos que atuavam em áreas de extrema pobreza em vários estados do país. Sem eles, a população destes locais ficará ainda mais vulnerável. Sim, é difícil acreditar que temos um governo que em plena pandemia, resolve dispensar médicos.

Todos os setores do país são prejudicados de alguma forma com essa política. Um a cada quatro brasileiros procuram um emprego, e nessa estatística entram desde quem tem baixa escolaridade até o profissional que tem mestrado, doutorado. Na área ambiental, as queimadas avançam mais rápido que as notícias sobre elas. Terras indígenas estão sendo mineradas, e há uma quantidade exacerbada de agrotóxicos sendo liberado, só em 2019, foram quase 500 tipos, o maior dos últimos 14 anos.

Nossas instituições não são mais levadas a sério. A política passa por uma enorme e perigosa descrença e, ainda assim, insistem no neoliberalismo, que prega encolher o Estado. Acreditam que fazendo menos, encarecendo o custo de vida, retirando direitos trabalhistas e sociais, chegarão no modelo de país ideal. Como consequência, os 10% mais ricos aumentaram sua participação na renda nacional, enquanto os 90% restantes, os pobres, a perderam.

Questiono: quantos leitos novos de UTI foram habilitados? Quantos leitos hospitalares novos foram habilitados? Quais as providências tomadas para implantação de estruturas provisórias de atendimento? Quantos equipamentos, respiradores o governo adquiriu ou está adquirindo? Esses dados precisam ser apresentados a população.

Deixamos de ter empregos, médicos, programas sociais, e pessoas estão voltando à linha da pobreza. Quero acreditar que o mundo pós-Coronavírus irá ser mais solidário, menos individualista, mais consciente da importância dos serviços públicos, da necessidade de investimentos na saúde, na ciência e tecnologia, na educação pública. A exemplo, temos Jaqueline de Jesus e Ester Sabino, duas cientistas brasileiras da USP que seqüenciaram o genoma do novo Coronavírus em 48 horas. Que o mundo saía com menos ilusão de que a privatização é o caminho. Quero acreditar que teremos um mundo melhor.

Zeca Dirceu é deputado federal (PT-PR)