Coronavírus: ao abandonar uma família à própria sorte, Bolsonaro mostra sua covardia. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 28 de janeiro de 2020 às 20:30
O medo do coronavírus na Ásia

Não é fácil classificar os atos do presidente Jair Bolsonaro por ordem de trapalhadas, grosserias, cafajestagens e incongruências.

Mas, de todos eles, talvez o cúmulo da insensibilidade humana tenha se dado com o caso da família de brasileiros que encontra-se em observação e isolamento nas Filipinas com suspeita de infecção pelo coronavírus.

Optando pela fácil – e vergonhosa – “solução” de simplesmente lavar as mãos para o drama de cidadãos brasileiros em território estrangeiro, o chefe do executivo nacional defende a sua indiferença sob o signo do medo.

Nas suas próprias palavras:

“Não seria oportuno retirar de lá, com todo o respeito. Pelo contrário. Não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas”.

É inacreditável como o homem responsável por decisões capitais de uma República de mais de 200 milhões de pessoas pode estar equivocado de tantas maneiras numa única frase.

Primeiro que não se trata de uma questão de ser “oportuno” ou não o resgate de cidadãos em meio a um surto epidemiológico internacional. Trata-se simplesmente de uma obrigação do Estado brasileiro.

Segundo que a decisão de abandoná-los sob o argumento de que o seu resgate traria “risco” a “nós aqui”, só prova a completa incompetência do governo na condução dos protocolos de emergência, contenção e tratamento de eventos dessa natureza.

Prova maior disso, é que diversos países do mundo, a exemplo de França e Japão, estão caminhando no sentido exatamente oposto ao Brasil e organizando missões para retirar seus cidadãos das zonas de risco do vírus.

Trata-se, antes de qualquer coisa, de respeito e solidariedade.

E terceiro, ao justificar a sua omissão pelo caso envolver “uma família apenas”, Bolsonaro demonstra um traço típico de personalidades doentias: a de não enxergar vítimas como seres humanos, mas tão somente como números.

É realmente constrangedor de inúmeras formas – para as forças armadas brasileiras, que fique claro – o fato de sua “formação” ter sido “construída” nos meios militares.

Por cada decisão que toma em falso desde que assumiu o cargo de Comandante-em-Chefe desse país, a única conclusão que se pode tirar de um capitão com as deficiências morais, éticas e intelectuais como Jair Bolsonaro, é a de que simplesmente nenhum combatente, acima ou abaixo de seu posto, teria a coragem de confiar a sua vida a este homem.

Por motivos que já se mostraram mais do que suficientes, é forçoso afirmar que o que temos na verdade na presidência da República é um ignóbil que ultrapassa os limites da incompetência para se esconder nos bueiros escuros da covardia.

Alguém que ao ver um semelhante em situação de risco, simplesmente vira as costas e bate em retirada.