Coronavírus: ao contrário do Brasil de Bolsonaro, países civilizados repatriam cidadãos na China. Por Willy, de Paris

Atualizado em 2 de fevereiro de 2020 às 6:53
Máscaras cirúrgicas em Londres por medo do coronavírus

Enquanto Bolsonaro se recusa a repatriar os brasileiros na China, os países desenvolvidos estão fazendo o oposto. A percepção deles indica um alarme global.

Centenas de cidadãos japoneses e americanos foram evacuados da cidade chinesa por seus respectivos governos nesta quarta-feira.

Europa, Austrália e Nova Zelândia preparam seus repatriamentos.

No caso da Europa, oito casos foram confirmados até o momento; quatro na França e quatro na Alemanha. Aproximadamente 600 cidadãos europeus em Wuhan, origem da epidemia, queriam retornar aos seus países de origem, segundo informações da Comissão Europeia.

Paris repatriou 183 franceses até este domingo, quando ocorre um segundo repatriamento. Berlim, por sua vez, repatriou 120 cidadãos, assim como 26 estrangeiros. O Reino Unido também começou um plano de repatriamento, mas segundo o The Guardian, tem recusado repatriar pessoas com dupla cidadania.

A companhia British Airways cancelou todos os voos que ligam o Reino à China continental.

Na mídia europeia, o tema é destaque, o que tem gerado preocupação na população, mas também histeria.

Na França, onde seis casos foram confirmados, faltam máscaras em farmácias, que têm recorrido parcialmente aos hospitais, em partes do país.

O fluxo de pessoas entre a China e a França é considerável, para além do turismo, por conta dos investimentos franceses no país.

Na cidade de Wuhan fica uma usina de autopeças da Citroën-Peugeot, o que explica a existência de uma comunidade e de um Consulado francês.

Agnès Buzyn, ministra francesa da Saúde, anunciou que os cidadãos repatriados vão para um centro de confinamento, onde permanecerão em quarentena por 14 dias, tempo em que aparecem os sintomas de uma eventual contaminação.

Graças à confirmação de casos da doença em solo francês, o Institut Pasteur obteve amostras do coronavírus, cuja evolução é observada pela fundação de pesquisas biológicas.

Médicos atendem paciente infectado pelo coronavírus no hospital Zhongnan, em Wuhan, na China

Uma vacina é descartada como prioridade, mas pode ser produzida em até dez meses segundo a percepção da gravidade da propagação do vírus.

Do ponto de vista social, a estigmatização de chineses é um risco.

Uma reportagem do jornal Le Monde relata o aumento da quantidade de ligações para o SAMU com diversas dúvidas, como a de um instrutor de autoescola que perguntou se a tosse de uma aluna chinesa representava um perigo. Há quem esteja evitando restaurantes chineses em Paris.

Algumas empresas francesas decidiram restringir a quantidade de viagens de funcionários para o exterior. Na Alemanha, foi registrado nesta semana o primeiro caso de uma pessoa infectada que não viajou para a China.

Analistas suspeitam que o número de infectados em solo chinês é muito superior ao informado pelo governo e afirmam que os hospitais europeus estão preparados para lidar com o vírus, o que atribuem em parte a uma rápida resposta das autoridades europeias.

O que emerge na ação dos países desenvolvidos neste contexto de crise é a função do Estado, que deve ser a de proteger seus cidadãos e não de abandoná-los.

A China corre contra o tempo para construir hospitais que seus astronômicos índices de crescimento não levantaram nos últimos anos. O governo teme consequências políticas negativas internas e externas.

Mais uma vez na história, uma crise mostra a importância do papel do Estado na sociedade.

A lógica do “cada um por si” se revela o maior perigo para a humanidade.