Coronel ligado a Braga Netto fazia ponte entre investigados e articulava estratégias de defesa

Atualizado em 17 de dezembro de 2024 às 6:45
O coronel Flávio Botelho Peregrino, ex-assessor de Braga Netto e alvo de busca e apreensão da PF. Foto: reprodução

O coronel da reserva Flávio Botelho Peregrino, alvo da Polícia Federal (PF) no último sábado (14), é conhecido como “Cid de Braga Netto” devido à sua proximidade com o general preso. Apesar de não ser formalmente citado como investigado, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra ele no mesmo dia em que prendeu o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL).

Peregrino mantinha contato com outros envolvidos na trama e articulava estratégias de defesa para Braga Netto e aliados, conforme informações da Folha de S.Paulo. Ele atuava nos bastidores, dialogando com militares próximos do general, como os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira e o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha.

Peregrino esteve ao lado de Walter Braga Netto em todas as funções assumidas pelo general nos últimos quatro anos. Atuou como assessor de imprensa na Casa Civil, no Ministério da Defesa e, em 2023, acompanhou Braga Netto na sede do PL, em Brasília, quando o general passou a comandar as relações institucionais do partido.

Nos últimos meses, o coronel atuava como assessor do deputado distrital Thiago Manzoni (PL), mas continuou a auxiliar Braga Netto em sua defesa no inquérito sobre a trama golpista. Peregrino diz a interlocutores que sua ajuda ao general era motivada por lealdade e camaradagem, sem qualquer remuneração, uma vez que os dois compartilharam os últimos meses do governo Bolsonaro.

Entre suas tarefas, Peregrino treinou Augusto Heleno para o depoimento prestado na CPI do 8 de Janeiro no Congresso Nacional, em 2023. Contudo, no sábado, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), acatou pedido da Polícia Federal, com aval da PGR (Procuradoria-Geral da República), e proibiu Peregrino de contatar outros investigados.

Defesa de Braga Netto promete provar que general n... | VEJA
O general Walter Braga Netto, preso no último sábado (14). Foto: reprodução

Trama Golpista

O principal elemento que liga Peregrino à trama golpista, segundo a PF, são documentos encontrados na mesa do coronel durante buscas realizadas na sede do PL em fevereiro. Entre os materiais, havia uma lista de perguntas e respostas sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Segundo a PF, “o contexto do documento revela que, possivelmente, foram feitas perguntas sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por Mauro Cid em sede policial, as quais teria [sic] sido respondidas a princípio, pelo próprio colaborador, em vermelho.”

Outro manuscrito encontrado na posse de Peregrino, intitulado “Operação 142”, fazia alusão ao artigo 142 da Constituição Federal, que define o papel das Forças Armadas. O documento continha tópicos que sugeriam a viabilização de um golpe, mencionando “anulação das eleições”, “prorrogação dos mandatos”, “substituição de todo TSE [Tribunal Superior Eleitoral]” e ações antidemocráticas para impedir que “Lula não sobe a rampa.”

O coronel afirmou a pessoas próximas que os documentos não serviram para planejar golpes de Estado nem resultaram de conversas com Mauro Cid. Aliados de Peregrino alegam que os materiais foram elaborados com base em notícias veiculadas pela imprensa sobre a delação de Cid e o plano golpista, com o intuito de auxiliar Braga Netto em sua defesa diante do cenário político.