
Um ex-combatente que atuou na guerra da Ucrânia relatou que corpos de soldados estrangeiros, incluindo brasileiros, muitas vezes não são resgatados e acabam devorados por animais. O baiano Rafael (nome fictício), de 38 anos, contou ao Portal A Tarde que a prática estaria ligada a um sistema que transforma mortes em ganhos financeiros para unidades militares.
Segundo ele, soldados mortos sem recuperação do corpo são registrados como “desaparecidos úteis”, o que permite a continuidade de pagamentos durante o período do contrato. “O contrato é de três anos. Se não tem corpo, o soldado é dado como desaparecido. Sem corpo, não tem morto. E o comandante continua recebendo o salário”, afirmou.
Rafael disse que muitos corpos deixam de ser recolhidos de forma deliberada. “Não é porque não dá. É porque não querem. Os corpos não recuperados, muitas vezes, acabam como alimento para animais ou alvo de chacota dos russos. Muitos, os bichos comem”, declarou.
Esses soldados são classificados como “missing in action” “desaparecido em ação) ou “lost in terrain” (perdido no terreno), status que pode durar até três anos. Durante esse período, familiares não recebem informações oficiais nem valores devidos. “Nenhum familiar é comunicado. Eles recebem até três anos, que é quando dá baixa no contrato”, disse.

O ex-combatente afirmou que a maioria das mortes ocorre por minas terrestres e drones explosivos, e não em confronto direto. “O drone quando vem explode tudo, não sobra nada. Muitos morrem soterrados. Quando pisa numa mina, explode”, contou. Ele disse ainda que o envio de corpos ou cinzas ao Brasil praticamente deixou de acontecer. “Agora, nem isso”, lamentou.
Segundo Rafael, muitas famílias só descobrem a morte dos parentes por mensagens e imagens divulgadas em redes sociais e aplicativos. “É assim que aparecem: uma foto com um X e a frase ‘Brazilian merc down’”, relatou, afirmando que os russos tratam estrangeiros como mercenários.
Ele também citou um ranking informal de mortes por nacionalidade, no qual os brasileiros aparecem em segundo lugar, atrás apenas dos colombianos. Rafael afirmou que cerca de 300 brasileiros já morreram no conflito.
Rafael também denunciou o que chama de “sistema perverso”. “O soldado morto que não tem corpo recuperado continua registrado como ativo, gerando pagamentos e benefícios para a unidade, enquanto nenhuma informação é repassada à família”, completou.
Veja a lista de alguns brasileiros mortos identificados:
- Kauã Victor da Silva – Anápolis, Goiás
- Luís Felipe Vieira Toledo – Rio de Janeiro
- Francisco Elton De Araújo – São Luís, Maranhão
- Lucas Lima – São Geraldo, Minas Gerais
- Joas da Rosa Oliveira Serafim – Canoas, Rio Grande do Sul
- Daniel Lucas de Campos – Campinas, São Paulo
- Wendrilli Polga Lopes – Rio Grande do Sul
- Brayan Caldeira Vasconcelos – Rio de Janeiro
- Arthur Santiago da Silva – Governador Valadares, Minas Gerais
- Luís Kauan Marta de Freitas – Rio Grande do Sul
- Raysson Mendes dos Santos – Manaus, Amazonas
- Luís Felipe Martin – São Pedro, São Paulo
- Thiago Paulo Bulhões – São Paulo
- José Nito de Jesus Souza – Maiquinique, Bahia
- João Victor de Brito Valim – Jacareí, São Paulo
- Francisco Alves dos Santos Filho (Zeus) – Teresina, Piauí