
A coluna Mônica Bergamo informa que testemunhas de Paraisópolis não prestaram depoimento formal à corregedoria da Polícia Militar por medo.
Medo de quê ou de quem? O registro é ambíguo: diz que muito dessas supostas testemunhas seriam “contrárias aos pancadões”.
Ora, não faz sentido.
A corregedoria da PM não pode investigar os pancadões. A função dela é apurar os abusos dos policiais mostrados pelos vídeos gravados por moradores.
Mas, até nisso, a corregedoria aparentemente falha: diz que não encontrou ainda os autores das gravações.
Se quer investigar, a corregedoria da PM deveria ser mais discreta.
Agindo de maneira ostensiva, terá dificuldade para convencer testemunhas a prestarem depoimento formal.
Há dois dias, por exemplo, os corregedores percorreram a favela atrás de pistas na companhia da TV Globo.
Fizeram o contrário do que recomenda qualquer investigação.
Quem teria coragem de depor depois de aparecer na televisão conversando com PMs?
A corregedoria diz que oferece aos moradores de Paraisópolis a condição de falarem na condição de testemunhas protegidas.
É uma piada.
Aparecem na TV e depois têm o nome com tarja preta no depoimento. De que adianta a proteção?
A menos que a corregedoria ofereça possibilidade da pessoa viver em outro local, com nova identidade, é difícil que alguém se arrisque.
Termina esse processo, e a PM volta a circular pelo bairro com a mesma desenvoltura, e a mesma truculência.
Antes mesmo do massacre na madrugada do último domingo, eram comuns as cenas de abuso.
Vídeo mostrou um policial batendo com pedaço de pau em jovens que saíam de um barracão.
Até um rapaz de muletas apanha, enquanto o policial ri.
Ao percorrer as ruas, vielas e becos de Paraisópolis na companhia da equipe de reportagem da Globo, a corregedoria dá demonstração de que não quer apurar nada, mas passar a imagem de que está trabalhando e cumprindo a determinação de João Doria de “apurar com rigor”.
Tudo teatrinho, cena de ficção para aparecer na TV