Corrida por terras raras em Poços de Caldas já soma mais de 100 pedidos de mineração

Atualizado em 10 de agosto de 2025 às 16:11
Descoberta de terras raras no Sul de Minas levou à corrida de empresas para pesquisar a região em busca dos minerais, considerados estratégicos. Foto: Divulgação / Meteoric

A descoberta de uma das maiores jazidas de terras raras do mundo, localizada na cratera de um vulcão extinto em Poços de Caldas (MG), desencadeou uma corrida por autorizações de pesquisa na região. Entre 2023 e 2024, a Agência Nacional de Mineração (ANM) recebeu mais de 100 pedidos para explorar áreas no planalto vulcânico e seu entorno, volume que representa um terço das autorizações desse tipo em todo o estado no período. Esses minerais, estratégicos para as indústrias de tecnologia e energia, têm papel central na disputa comercial entre China e Estados Unidos, que já manifestaram interesse em acordo com o Brasil para acesso aos recursos.

A cratera, que abrange cerca de 800 km² e se estende por municípios mineiros e paulistas, pode suprir até 20% da demanda global por terras raras. O diferencial é a facilidade de extração, já que os minérios estão próximos à superfície. A perspectiva de encontrar depósitos fora da cratera, devido ao espalhamento da lava vulcânica no passado, também atrai empresas para cidades vizinhas como Cabo Verde, Muzambinho, Botelhos e Caconde.

A autorização de pesquisa é o primeiro passo para a lavra, podendo ir desde a coleta superficial de amostras até perfurações profundas. Muitos pedidos, porém, são feitos por empresas e profissionais que visam negociar os direitos minerários antes da fase de exploração. É o caso da RCO Mineração, que detém mais de 100 áreas de pesquisa em três estados e recentemente identificou um novo depósito em Turvolândia (MG), a 40 km de Poços de Caldas, que já desperta interesse internacional.

Empresas mineiras também entram na disputa. A Anova, que atua na extração de ferro, já solicitou sete áreas de pesquisa próprias e outras em parceria, com planos de montar uma planta piloto para exploração. O objetivo é tornar-se a primeira mineradora mineira a extrair terras raras em escala, buscando apoio do Invest Minas e atraindo possíveis investidores estrangeiros.

Região da cratera do vulcão de Poços de Caldas (MG) tem cerca de 100 pedidos de pesquisa de solo para terras raras. Foto: Agência Nacional de Mineração (ANM)

Especialistas alertam que a valorização desse recurso pode levar à especulação, como já ocorreu com ouro, minério de ferro e lítio. Muitos projetos, segundo o setor, são protocolados sem viabilidade técnica, resultando em áreas paralisadas. Ainda assim, a magnitude da jazida de Poços de Caldas mantém o Sul de Minas no radar global da mineração.

Com potencial para colocar o Brasil na liderança da transição energética e no mercado global de minerais estratégicos, a corrida por terras raras em Minas Gerais pode redefinir a geopolítica da mineração nos próximos anos, equilibrando interesses econômicos, ambientais e estratégicos.