O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, deu um jeito de enfiar o caso da facada em Jair Bolsonaro na investigação sobre Marielle Franco.
O inquérito da Polícia Federal concluiu que Adélio Bispo de Oliveira, autor da facada, agiu sozinho, sem nenhum mandante, mas o general Augusto, ecoando manifestação pública de Bolsonaro, continua alimentando teoria conspiratória, como disse em entrevista a Andrea Sadi, da Globonews.
“Sobre se considerava positiva alguma resposta sobre o crime, um ano depois, o ministro respondeu: ‘Todos nós estamos esperando uma resposta, não só deste caso, como da facada em Jair Bolsonaro'”, escreveu a repórter, em seu blog.
A rede bolsonarista que se move no esgoto da internet já publicou a montagem de uma foto em que Adélio Bispo de Oliveira aparece na recepção a Lula em Curitiba.
Ele nunca esteve lá, mas a foto montada se espalhou pela internet, o que obrigou sites de checagem a analisá-la, e concluiu que a imagem era falsa.
Laudo psiquiátrico realizado por ordem da Justiça Federal aponta que Adélio tem a doença chamada transtorno delirante permanente paranoide e, por isso, conforme o documento, foi considerado inimputável.
Ou seja, poderá ficar internado até o fim da vida, mas não pode ser processado.
Não há decisão da Justiça sobre o laudo, que diz ainda que, em entrevistas com psicólogos e psiquiatras, ele afirmou que não cumpriu sua missão, e que, saindo da cadeia, iria matar Bolsonaro.
O caso da facada em Bolsonaro não tem paralelo com o assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes, mas os bolsonaristas como o general Heleno continuarão batendo nesta tecla.
Na verdade, fazem politização às avessas.
A facada em Bolsonaro ocorreu à luz do dia, na presença de centenas, talvez milhares, de testemunhas.
O autor foi preso, interrogado, re-interrogado, teve sigilos de telefone quebrados.
Nada.
Suas manifestações no Facebook já indicavam uma personalidade perturbada, com obsessão pela maçonaria, críticas a Bolsonaro e aos eleitores deste, e também ataques a políticos de esquerda, como Dilma Rousseff.
Comparar os dois casos atende ao interesse de quem não quer que a investigação sobre o mandante ou mandantes do assassinato de Marielle vá a fundo.
A investigação sobre a facada em Bolsonaro não sofreu nenhum tipo de interferência política para não avançar. Pelo contrário. Foi estimulada.
O inquérito principal já foi concluído, mas existe outro inquérito, para apurar se há mandantes para o crime da facada.
Até agora, nada.
Já o caso Marielle poderia ter sido esclarecido há mais tempo, mas o Estado do Rio de Janeiro, sob intervenção militar na área de segurança, nem aceitou ajuda da Polícia Federal oferecida pelo então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.
Este chegou a apontar o envolvimento de poderosos por trás da morte de Marielle.
É urgente saber quem são esses poderosos.