Covid-19: após denúncia da França contra EUA, surgem revelações sobre confiscos de máscaras entre países europeus

Atualizado em 4 de abril de 2020 às 11:27

PUBLICADO NA RFI 

Autoridades francesas afirmaram nesta semana que os Estados Unidos estão comprando carregamentos de máscaras já vendidos à Europa nos aeroportos chineses por um valor de três a quatro vezes superior ao negociado. No entanto, dentro da própria União Europeia, países estão confiscando entre si o material médico que, em tempos de coronavírus, está valendo mais que ouro.

A revelação é feita pela revista francesa L’Express. Uma matéria no site do semanário afirma que “a guerra das máscaras” começou muito mais cedo na Europa.

Segundo a L’Express, em 5 de março, a França confiscou quatro milhões de máscaras da empresa sueca Mölnlycke, em Lyon, no sudeste do país. Dois dias antes, o presidente francês, Emmanuel Macron, havia assinado um decreto permitindo ao governo confiscar todos os estoques de produtos e materiais hospitalares do país para lutar contra o coronavírus.

De acordo com a Mölnlycke, especializada em produção de equipamento descartável para o setor médico, as máscaras confiscadas pela França deveriam ser enviadas à Espanha e à Itália, que já enfrentavam uma dura etapa da epidemia.

A revista L’Express afirma que “não é necessário ser inimigo para entrar em guerra”. A matéria lembra que todos os países envolvidos no quiproquó – França, Suécia, Espanha e Itália – pertencem à União Europeia, são aliados no plano militar e signatários de uma estratégia econômica até mesmo no que diz respeito ao setor da saúde.

Ao que tudo indica, a crise do coronavírus e a falta de máscaras balançaram as relações e a harmonia entre os parceiros. A situação “transformou os países em beligerantes de um conflito, político, econômico e diplomático”, publica L’Express.

República Tcheca x Itália

O desacordo entre a Suécia e a França não é único na Europa. No momento em que a Itália registrava o recorde de 800 mortos em apenas 24 horas, em 22 de março, 680 mil máscaras e respiradores – enviados pela China à Itália – foram recuperados pela República Tcheca.

Foi um pesquisador tcheco, Lukas Lev Cervinka, quem revelou a informação, alertando ONGs humanitárias. Na Itália, os jornais La Repubblica e o canal de TV Rai também divulgaram a notícia.

Logo depois, o governo tcheco admitiu o “erro”, afirmando não saber o destino das máscaras confiscadas pela aduana do país. No entanto, o pesquisador divulgou fotos e vídeos mostrando que as caixas estampavam, em mandarim e em italiano, as inscrições: “ajuda humanitária chinesa para a Itália”.

Com a forte repercussão da história, o Ministério tcheco da Saúde admitiu a verdade, indicando que o material era, de fato, um carregamento da Cruz Vermelha originário da província chinesa de Zhejiang destinado à Itália. No entanto, não indicou como a remessa foi parar na República Tcheca e se ele já foi distribuído aos serviços de saúde do país. As autoridades chinesas afirmaram que um novo carregamento de material hospitalar será enviado à Itália.

200 mil máscaras confiscadas na Tailândia

Autoridades alemãs afirmaram nesta sexta-feira (3) que 200 mil máscaras de proteção contra o coronavírus, que seriam utilizadas pela polícia de Berlim, foram confiscadas em Bangkok. Segundo o governo da Alemanha, o carregamento, encomendado de um fabricante americano, já havia sido pago, mas foi bloqueado no aeroporto da capital tailandesa.

A imprensa alemã informa que as máscaras foram produzidas na China pela empresa americana 3M. “Diante da situação atual, partimos do princípio que isso está ligado à proibição de exportação de máscaras pelo governo americano”, afirmam autoridades da Alemanha.

O episódio irritou os políticos do país. “Isso pode ser considerado como um ato de pirataria moderna”, afirmou o senador alemão Andreas Geisel. “Não agimos desta forma com nossos parceiros, mesmo nesses tempos de crise global”, reiterou.

“Roubo” de máscaras francesas

Os Estados Unidos negam ter comprado máscaras destinadas à França, depois da denúncia de duas autoridades francesas nesta semana. De acordo com Jean Rottner, presidente da região Grand Est, os americanos estariam comprando o material diretamente nas pistas dos aeroportos chineses, pagando em dinheiro vivo e de três a quatro vezes mais caro do que o valor original.

“Na pista, os americanos oferecem dinheiro e pagam três ou quatro vezes o preço dos pedidos que fizemos”, disse Rottner na quarta-feira (1°). Segundo ele, em seguida, os aviões partem aos Estados Unidos e não à França. “É complicado, lutamos 24 horas por dia” para obter as máscaras, disse Rottner, explicando que uma remessa do material adquirido pelos americanos seria distribuída a profissionais que trabalham em casas de repouso para idosos.

Na terça-feira (31), Renaud Muselier, presidente da região francesa Provence-Alpes-Côte d’Azur, no sudeste, também reclamou das práticas americanas e do desvio das mercadorias com a oferta de um valor mais alto. “A maior dificuldade é a entrega. Diante deste problema, estamos aumentando a segurança das remessas para que elas não sejam comprada por outros”, reiterou.