Covid-19 deixa mais 1.274 mortos. Após ‘platô’ e flexibilização, Fiocruz aponta ‘segunda onda’

Atualizado em 11 de agosto de 2020 às 19:26

Publicado originalmente na Rede Brasil Atual

Por Gabriel Valery

Para epidemiologista, segunda onda está sendo ocultada sistematicamente – Fernando Crispim/Amazônia Real

Boletim desta terça-feira (11) do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) relata mais 1.274 mortes pela covid-19 nas últimas 24 horas. Com o acréscimo, além de comprovar que a doença segue seu rastro letal pelo país, já são 103.026 vítimas do novo coronavírus desde o início do surto, em março.

O número de casos também teve alta notável nesta terça. Foram registrados novas 52.160 infecções pelo vírus, totalizando 3.109.630 doentes, também desde o início da crise sanitária. Epidemiologistas alertam que o poder público lida com a covid-19 de forma inconsequente, o que pdve levar o país a superar as 200 mil mortes nos próximos meses.

Dados consolidados pelo Conass

Segunda onda

Para o pesquisador Jesem Orellana, da Fundação Oswaldo Cruz na Amazônia (ILMD), algumas cidades vivem uma “segunda onda” de contaminações. Em especial, cidades mais afetadas no início do surto, como Manaus. “Há mais de três semanas temos percebido um aumento no número de óbitos por síndromes respiratórias. Independentemente das fontes que observamos, o resultado é o mesmo; o aumento de mortes.”

No Amazonas, há relatos locais de que existe um movimento da imprensa comercial, em conluio com o poder público para esconder o avanço da doença. O governador, Wilson Lima (PSC), é jornalista e mantém laços com poderosos veículos da região. Jesem se atém aos dados, mas também lamenta a falta de informações. “Temos uma situação gravíssima e existe, aparentemente, um bloqueio de informações. O fato é que, desde que iniciaram a flexibilização, temos o aumento das mortes”, disse.

Dados que indicam possível segunda onda em Manaus (Fonte: Fiocruz)

Números

Comparando o período de 21 a 27 de julho com o de 04 a 10 de agosto, houve um aumento de 54% nas mortes por covid-19 em Manaus. “O dado mais estarrecedor e sugestivo de desprezo pela vida é o do excesso de mortes por motivos respiratórios no geral (covid-19; Síndrome Respiratória Aguda; Pneumonia; Insuficiência Respiratória; e óbitos com outros sintomas respiratórios) em pessoas com 20 anos ou mais, durante o período de 21 de junho a 22 de julho de 2020, aproximadamente 150% maior em 2020, quando comparado ao mesmo período de 2019”, completa o epidemiologista.

O estado do Amazonas passa por um movimento mais agudo, mas similar a São Paulo. Por lá, escolas já estão retomando as aulas, coisa que deve acontecer em São Paulo em outubro. Já comércio e outras atividades não essenciais também estão a pleno vapor, com concordância do governador de lá e também de João Doria (PSDB).

Por fim, Jesem conclui que “a narrativa de que a epidemia está controlada é falsa e, em última análise, irresponsável, passível de punição em diversas esferas, especialmente em tempos de franco descaso com as medidas de distanciamento físico e de retorno de atividades escolares em âmbito escolar”.

Estados mais atingidos pela covid-19

Edição: Fábio M. Michel