
A CPI do Crime Organizado recebe nesta terça-feira (18) o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, em um momento de forte tensão política provocado pela disputa em torno do Projeto Antifacção, que deve ser votado no mesmo dia na Câmara dos Deputados.
A oitiva se torna estratégica porque o texto em debate chegou a retirar atribuições da PF, gerando reação de delegados, entidades e parlamentares do governo.
A expectativa é que Andrei seja questionado sobre pontos do projeto que, em versões intermediárias apresentadas pelo relator Guilherme Derrite (PP-SP), limitavam a atuação da PF no combate às facções criminosas.
A mudança mobilizou governistas, que alegam prejuízo ao enfrentamento nacional do crime organizado, e bolsonaristas, que pressionam por alterações que tornem o texto mais duro.
A ida do diretor-geral ocorre no mesmo dia em que a Câmara tentará votar o projeto, hoje palco de confronto direto entre PT e PL, as maiores bancadas da Casa.
O PL quer incluir a equiparação de facções ao terrorismo e proibir audiências de custódia. Já o PT afirma que o texto de Derrite enfraquece a Receita Federal, medidas cautelares e cria “uma lei paralela” à atual legislação sobre organizações criminosas.

Disputa por protagonismo
Instalada após a megaoperação no Rio que deixou 121 mortos, a mais letal da história do país envolvendo forças policiais, a CPI ganhou contornos de grande visibilidade. Ela é comandada por Fabiano Contarato (PT-ES), com relatoria de Alessandro Vieira (MDB-SE), ambos delegados. Contarato venceu a disputa pela presidência por 6 a 5, derrotando Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que se tornou vice-presidente.
A CPI tem prazo de 120 dias para investigar a estrutura, a expansão e as fontes de financiamento de PCC, CV e milícias, além de domínio territorial, infiltrações no poder público e conexões internacionais.
Entre os integrantes do debate sobre segurança estão: Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Magno Malta (PL-ES), Randolfe Rodrigues (AP) (suplente) e Sergio Moro (União-PR) (suplente).
Câmara tenta votar o Projeto Antifacção sob pressão
A votação do projeto ocorre sob pressão dupla. O PL quer ampliar a dureza do texto, enquanto o PT tenta evitar uma derrota em um projeto originalmente enviado pelo Executivo. Segundo o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ): “Há avanços, mas faltam os pontos principais para nós.”
Já o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), sustenta que a versão atual “perde a espinha dorsal: a capacidade de bloquear rapidamente recursos ilícitos”.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirma que a discussão precisa avançar sem disputa de protagonismo: “A direita e a esquerda podem brigar por narrativas. O que me move é o essencial: endurecer penas e responder ao pedido mais legítimo da sociedade — o direito de viver em paz.”