“A CPI contra o padre Júlio é uma fake news da Folha com o MBL”, diz ex-deputado

Adriano Diogo concedeu entrevista ao canal DCMTV

Atualizado em 4 de janeiro de 2024 às 19:27
Adriano Diogo no canal DCMTV. Foto: Reprodução/YouTube
Adriano Diogo no canal DCMTV. Foto: Reprodução/YouTube

O geólogo e político Adriano Diogo, ex-deputado estadual e ex-vereador pelo PT de São Paulo, afirma que a CPI contra as ONGs, que mira o padre Júlio Lancellotti, é uma armação do vereador Rubinho Nunes (UNIÃO-SP), fundador do MBL. E ele diz que isso aconteceu com colaboração da coluna Painel da Folha de S.Paulo.

Para Diogo, que foi preso e torturado na ditadura militar e que presidiu a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, o jornal paulista age como propagador do discurso de extrema direita que agrada o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB-SP), e ataca seu principal adversário nas eleições de 2024, Guilherme Boulos (PSOL-SP).

Após uma revolta nas redes, o vereador Thammy Miranda (PL-SP) publicou um vídeo nas redes sociais retirando sua assinatura e se declarando enganado por Nunes. Outros três colega o seguiram.

Confira os principais trechos da entrevista dada por Adriano Diogo ao programa DCM Ao Meio-Dia.

Uma “engrenagem” contra o padre Júlio Lancellotti

Foi montada uma engrenagem para viabilizar essa CPI. Há um mês, esse vereador Rubinho Nunes, o advogado do MamãeFalei no caso das mulheres ucranianas, que teve repercussão mundial, anunciou que ele estava convocando o padre Júlio Lancellotti para depor na Câmara Municipal.

Surpreendido com essa notícia, sendo que fui eleito quatro vezes vereador de São Paulo, trabalhei com Luiza Erundina e também como secretário da Marta Suplicy, fui pesquisar o que tinha acontecido. Esse senhor, numa reunião de uma frente parlamentar, sugeriu convocar o padre. Frente parlamentar não convoca. No máximo, convida. Frente parlamentar não convoca nem vereador. Não tem prerrogativa para isso. 

O máximo que essas frentes parlamentares podem fazer é para viagens internacionais, como ir pro Japão. Para a China, para a Coreia ou como fez a mulher do Moro, que foi para a Argentina. Frente parlamentar existe no momento em que se instala e no momento que acaba. Depois não serve para mais nada.

Esse senhor Rubinho, a partir de uma frente parlamentar, disse que queria convocar o padre Júlio sobre as organizações sociais da Igreja Católica. Fui investigar isso e vi que era uma mentira. Conversamos com o deputado estadual Antônio Donato (PT-SP), que foi vereador, e fomos falar com o Milton Leite (UNIÃO-SP), presidente da Câmara.

Leite disse que não tinha CPI. E disse que a Câmara estava entrando em recesso. Votaram o orçamento para o ano e é isso.

A Folha e o problema da CPI

A Folha de S.Paulo inventou que o padre Júlio Lancellotti estava sendo convocado. Como era pífia a notícia, ele esperou que a Câmara entrasse em recesso, encerrado seus trabalhos, e anunciou: o vereador Rubinho conseguiu aprovar uma CPI.

Uma comissão parlamentar de inquérito que supostamente iria investigar o padre Júlio e as organizações sociais da Igreja Católica. Em particular o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e a Craco Resiste. Isso é mentira.

Mesmo que a CPI estivesse aprovada, você sabe como se aprova essa comissão? No fim do ano, cada vereador pode aprovar um projeto de lei. O vereador Rubinho Nunes colocou um projeto desse tipo. Mas esse tipo de comissão precisa ser aprovada em plenário.

Teria que ter a ata da votação. O número de votos a favor. Rubinho não faz isso. Disse que foi por acordo. Acordo de quem com quem, cara pálida?

Quem são os membros dessa CPI? Rubinho Nunes realmente entrou com requerimento, mas não houve sessão que aprovou essa CPI. Não foi publicado no Diário Oficial que existe essa CPI. E mesmo que tivesse sido aprovada essa CPI, ela teria que ir para a fila. Como se diz no mundo parlamentar: ela precisa ir para a cronologia.

Porque pode ter 20 ou 30 pedidos de CPI na frente. E qual é o problema nesse pedido de CPI?

É um pedido para investigar a Igreja Católica. É um ato inquisitorial? Vamos investigar se o padre Júlio, membro da Igreja, e as doações e insumos que vem da entidade Bom Parto. 

Quem é essa entidade, hoje chamada de Bompar? Foi fundada por Dom Luciano Mendes de Almeida. O bispo católico, irmão do fundador da entidade Cândido Mendes de Almeida do Rio de Janeiro.

Dom Luciano fundou a Bompar há 50 anos em plena ditadura militar. Porque não existia creche suficiente. Uma organização extraordinária que tem convênio com a prefeitura de São Paulo.

O que o Rubinho vai investigar entre organização Bompar e padre Júlio Lancellotti? Qual ponto tangencial? Nenhum.

E a Craco Resiste. O que ela tem a ver com o padre Júlio? Nada a ver. É uma organização que faz atendimento de psicoterapia em drogadição. Não tem nada a ver com o padre.

Quem vai ser investigado, para eles, é o padre Júlio Lancellotti. Padre Júlio deveria ganhar o Nobel da Paz, não passando por isso. A Folha de S.Paulo, que estava limpando o nome dela depois da ditadura militar, que emprestava carros para prender nossos companheiros e matá-los, agora vem com essa fake news?

Rubinho Nunes

A manobra

Eles querem que o requerimento, que está no trigésimo lugar, ascenda para o primeiro lugar no começo do ano legislativo porque o prefeito de São Paulo está despejando toneladas de dinheiro nesses órgãos de comunicação. Querem que o padre Júlio seja processado para atingir o PT e o Lula de alguma forma. É disso que se trata.

Os veículos tradicionais combatiam as fake news nas redes sociais. Agora parece que a coisa se inverteu. Os grandes meios de comunicação são geradores de fatos mentirosos.

A imprensa tinha que mostrar o extrato do requerimento do vereador. Quantas CPIs foram solicitadas. E nada disso foi checado! 

No primeiro ano de um curso de comunicação, você aprende que precisa saber do bastidor daquela notícia. E precisa saber como se aprova um projeto de lei na Câmara. E o pior é que tem gente da esquerda, do campo progressista, para fazer uma campanha de solidariedade ao padre Júlio, repete que foi “instaurada uma CPI”.

Não foi aprovado nada! Os caras são mentirosos. Esse cara é mentiroso. Estive na sala do presidente da Câmara Municipal. Ele disse que não “vai trazer o bode para sala”. E disse que o cara é que vai se virar.

A Folha de S.Paulo virou cabo eleitoral do Rubinho Nunes? É isso? A Folha de S.Paulo através da Coluna Painel se transformou em cabo eleitoral do MBL, esse lixo? Do MamãeFalei?

Isso é um absurdo! E a oposição ao prefeito? Quem anuncia se a CPI está instalada é a presidência da Câmara. Isso não tem valor nenhum. Eu posso ficar no corredor coletando assinaturas.

O problema não é esse malandro. O problema é um jornal como a Folha de S.Paulo dar repercussão para isso, um jornal de tradição, sem nenhuma checagem, na Coluna Painel do Fábio Zanini.

Colocaram um bom repórter para fazer isso. Guilherme Seto é um menino estudioso. Imagina a vergonha da Mônica e da Marlene Bergamo lá.

A Folha deveria dar um curso de como construir uma fake news. 

Confira a live na íntegra.

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