Crackberry

Atualizado em 27 de dezembro de 2011 às 11:40
Viramos escravos dos celulares

 

A tecnologia prometia melhorar nossa vida. Teríamos mais tempo livre. Poderíamos fazer outras coisas além de trabalhar. Folgar, amar, beber, cantar, ler, meditar, filosofar, observar as rodas dos carros se movimentando em círculos.

Mas a realidade trouxe algo bem diferente. Ficamos conectados ao trabalho em regime de 24 x 7 x 365 por causa da tecnologia. Respondemos a emails do serviço às vezes de madrugada, e podemos dedicar uma tarde de domingo a realizar uma tarefa que nosso chefe nos mandou no sábado pelo Facebook.

E então descarrilhamos mentalmente.

“Ocupe-se de pouco para ser feliz”, recomendava Demócrito, o sábio grego da Antiguidade, uma frase que gosto de citar frequentemente até para que eu mesmo a ouça. Fazemos o oposto, com a contribuição milionária da tecnologia.

Viramos escravos dos celulares. Não à toa, um deles, o Blackberry, conquistou merecidamente o apelido de Crackberry. Vicia como o crack. E nos acorrenta ao trabalho, numa servidão voluntária, para usar a clássica expressão de La Boétie, sobre quem escrevi outro dia neste Diário.

Por tudo isso, deve ser saudada uma decisão tomada pela Volks alemã depois de negociações com os sindicatos que representam seus funcionários. Os emails profissionais dos empregados, segundo o acordo, serão desativados meia hora depois de terminada a jornada. E só serão reativados meia hora antes da nova jornada. Os sindicatos estavam reclamando da mistura crescente da vida pessoal e profissional de seus associados.

É o primeiro grande sinal de reação à opressão tecnológica. A atitude da Volks alemã com certeza inspirará outras empresas e outros sindicatos mundo afora. A tecnologia tem que retornar à sua missão de facilitar nosso dia a dia, e não complicá-lo.

Daqui de minha casa, solto um rojão simbólico para festejar essa notícia que nos chega da Alemanha. É um presente de natal para a humanidade.