Cresce a suspeita de que Bolsonaro quer usar a investigação de Moro sobre o PSL para intimidar Bebianno. Por José Cássio

Atualizado em 18 de fevereiro de 2019 às 16:36
Jair Bolsonaro e Sérgio Moro. Foto: VALTER CAMPANATO/ABR E LULA MARQUES

Com Carlos fora de combate, Eduardo Bolsonaro assumiu o comando da artilharia pesada contra Gustavo Bebianno nesta segunda-feira, quando todo mundo esperava pela publicação que não veio da exoneração do secretário-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno.

No Twitter, Eduardo compartilhou a página de um site de extrema direita com severas críticas ao desafeto.

“Bebianno não tem relevância e é só mais um no governo”, diz o texto publicado. “Só tem importância como informante dos jornalistas da grande mídia, inimiga de Bolsonaro”.

A matéria defende que Bebianno, enquanto presidente do PSL em 2018, era o responsável direto pela concessão de verbas do fundo partidário aos membros do partido no período eleitoral.

“Estava traindo Bolsonaro, vazando informações e fofocas internas da presidência e boicotando o governo”, diz o texto.

Enquanto Jair ganha tempo institucional para debelar a crise, e decide o melhor momento para se livrar do auxiliar, filhos e grupos de apoiadores viralizam informações apócrifas via redes sociais.

Pelo WhatsApp, uma página, News Atual, reproduz uma argumentação idêntica à compartilhada por Eduardo Bolsonaro no Twitter, mas com foco na defesa de Carlos Bolsonaro.

“Os jornalistas investigativos descobriram o trambique de candidaturas-laranjas viabilizadas pela Executiva do PSL nas Eleições 2018. Independentemente de quem tenha bolado, organizado e chefiado o esquema, os responsáveis legais são o presidente da legenda e o tesoureiro da campanha”, acusa o texto.

“Noutras palavras, Gustavo Bebianno está enrolado e precisará deixar o posto de ministro e sair de fininho pela porta dos fundos”.

O argumento segue defendendo que o atual presidente do PSL, Luciano Bivar, também precisa ser afastado da cúpula palaciana.

“É o preço… e poderia ter saído muito mais caro”, diz o texto, que sai em defesa de Carlos Bolsonaro.

“Ao divulgar o polêmico áudio (o que Bolsonaro diz ao ministro que está impossibilitado de conversar), colocando-se na linha de tiro, Carlos pode ter livrado o Governo de uma crise”.

Prossegue o argumento:

“Se o áudio não tivesse sido publicado, a versão de Bebianno teria prevalecido e, hoje, o escândalo das candidaturas-laranjas estaria colado em Jair Bolsonaro”.

“Carlos Bolsonaro tirou a bomba da cadeira do pai e a colocou no colo de seu verdadeiro dono”, prossegue o texto.

“Não deixou o bode encomendado entrar na sala da Presidência. Antes disso, pegou o bicho pelos chifres e o deixou na porta da secretaria-Geral”.

Encerra alegando que a resposta teve efeito instantâneo, colocando Gustavo Bebianno e Luciano Bivar no foco do problema.

“Dessa forma, o bode vai junto com Bebianno quando sua exoneração for publicada no Diário Oficial”, diz o texto, referindo-se ao atual presidente do PSL, Luciano Bivar.

Em nenhum momento é citado o ministro do Turismo, Álvaro Antônio, que, na condição de presidente da seção mineira do PSL, também autorizou a transferência de recursos do Fundo Partidário para candidaturas “laranjas”.

Na semana passada, o ministro da Justiça, Sergio Moro, informou que os supostos repasses a candidaturas de fachada do PSL serão investigados a pedido de Bolsonaro.

“O senhor presidente proferiu determinação e ela está sendo cumprida”, disse Moro. “Os fatos vão ser apurados e eventuais responsabilidades após investigações vão ser definidas”.

Nos bastidores, cresce a suspeita de que, enquanto ganha tempo evitando a exoneração de Bebianno, Bolsonaro pode estar ajustando os ponteiros com o ainda secretário-Geral da Presidência para fazê-lo entender que a investigação governamental sobre o escândalo pode caminhar mais ou menos rápido, dependendo da postura do auxiliar em relação às críticas e eventuais denúncias que possa vir a fazer contra o clã Bolsonaro.

“O senhor presidente proferiu determinação e ela está sendo cumprida”, afirmou Sergio Moro, no que pode ser entendido como um ato falho do juiz que decidiu virar político e emprestar seu apoio a um agrupamento envolvido em escândalos como contratação de funcionários laranjas, parentes ligados a milicianos, entre outros.

Seja como for, o fato é que os Bolsonaros estão inovando na forma de se fazer política no país. Com dois moribundos insepultos na sala, Gustavo Bebianno e Luciano Bivar, Jair e os meninos inauguraram por aqui a era do vale-tudo.