Criador da “Machonaria” é acusado de desviar R$ 500 milhões por ex-líderes

Atualizado em 30 de junho de 2025 às 13:25
Pastor Anderson Silva, criador da Machonaria. Foto: reprodução

A Machonaria Nacional de Homens, organização cristã fundada pelo pastor Anderson Silva em 2021, enfrenta sua pior crise desde a renúncia coletiva de 18 líderes em maio. Em entrevista ao Uol, um dos ex-dirigentes, sob condição de anonimato, detalhou acusações graves contra o fundador do movimento, que se propunha a “resgatar a masculinidade bíblica” e afirma ter impactado mais de 10 mil homens.

Na carta de desligamento, os ex-integrantes citaram a violação de cinco códigos de conduta da organização, incluindo os princípios de “falar sempre a verdade” e “honrar suas dívidas”. “O Anderson mente. Ele mente sobre tudo”, afirmou o ex-líder, revelando que doações destinadas a uma família em situação de rua teriam sido redirecionadas sem transparência.

Segundo o relato, Silva tomava decisões unilaterais, usando recursos da instituição sem consultar a diretoria. Campanhas com apelo emocional, como auxílio a mães de crianças autistas, não eram acompanhadas de prestação de contas.

O ex-dirigente citou um caso emblemático: enquanto colaboradores tinham salários atrasados e FGTS não recolhido, R$ 40 mil foram transferidos para uma igreja em Brasília.

“Depois de muito pedir, criou uma conta na plataforma Asaas só para operações mínimas, mas o grosso ficava na gestão pessoal dele”, disse a fonte. Acessos à conta principal revelaram entradas mensais superiores a R$ 60 mil em 2024, mesmo com dívidas acumuladas de R$ 300 mil em aluguéis.

Em vídeo no Instagram, Silva negou irregularidades de caráter, atribuindo os problemas a “excesso de amor” e priorização de ajuda humanitária. “Alguns desses homens se revelaram narcisistas com planos frustrados”, declarou, sobre os ex-líderes.

O pastor ainda afirmou não pretender judicializar o caso, mencionando que deixa “nas mãos de Deus”, e desafiou críticos a formalizarem denúncias no Ministério Público.

Os ex-dirigentes afirmam que a ruptura foi ética, sem interesse em assumir a marca. “Estamos dando a ele a chance de prestar contas ao Brasil”, disse o entrevistado, sem confirmar se denúncias formais já foram feitas.

Bolsonarista arrependido 

Em 2023, ao lado do deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), Anderson chegou a dizer que os evangélicos teriam que pedir a Deus para matar os seus inimigos, quebrar a mandíbula do presidente Lula (PT) e prostrar enfermidades nos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Salmos 2 diz que o Senhor está rindo. Rindo por quê? Porque ele é capaz de destruir o imperador da Terra. Então assim ó, falta essas orações imprecatórias dos salmistas. Senhor, mata meus inimigos, quebra os dentes dos meus inimigos”, iniciou o pastor durante seu próprio podcast.

Na sequência, ele falou para os fiéis pedirem a Deus para “arrebentar a mandíbula” do presidente petista: “Falta a gente orar assim: Senhor, arrebenta a mandíbula do Lula. Sabe? Senhor, prostra enfermos ministros do STF pra que eles te conheçam no leito de enfermidade”, afirmou.

Um mês depois, ele informou pelas redes sociais que não seria mais o líder da Igreja Vivo por Ti, da qual foi o fundador e comandou por 16 anos. A justificativa oficial da decisão de abdicar da igreja veio após seu diagnóstico de TDAH e autismo.

O posicionamento extremista, no entanto, também é uma das causas de seu afastamento. Segundo ele, sua presença à frente da igreja poderia prejudicar a instituição.

Politicamente, Anderson Silva esteve, desde as eleições de 2018, fortemente aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas, em 2024, o defensor da direita e da política conservadora disse que se arrependeu de ter apoiado o ex-capitão e de ter “bolsonarizado” a religião.