
A crise alimentar nos Estados Unidos atingiu um patamar recorde: 47,4 milhões de pessoas vivem sem saber se terão o que comer, segundo dados oficiais de 2023 e 2024. Beneficiários do Snap, programa federal que auxilia famílias de baixa renda, relatam situações extremas em diversos estados, de Michigan ao Texas. A interrupção de 43 dias nos repasses durante o “shutdown” do governo Trump agravou o cenário, deixando famílias sem recursos básicos e escolas organizando doações emergenciais. Com informações do Uol.
O custo de vida é apontado como uma das principais causas da crescente insegurança alimentar. Salário mínimo federal congelado desde 2009, alta de quase 30% no preço dos alimentos em cinco anos, moradias 86% mais caras desde 2011 e veículos com aumento de 41% desde 2020 pressionam famílias de renda baixa e média. Especialistas afirmam que muitos americanos vivem no limite e entram em crise rapidamente diante de qualquer interrupção do benefício.
Histórias coletadas ilustram a dimensão do problema: mães que deixam de comer para alimentar os filhos, trabalhadores que esperam o expediente para fazer a primeira refeição do dia e idosos sobrevivendo com alimentos de emergência. Mesmo famílias com auxílio regular relatam que o valor não cobre o mês. Nos estados mais caros, como Oregon e Califórnia, beneficiários se veem obrigados a migrar para regiões mais baratas — muitas vezes sem sucesso.

O “shutdown” também expôs a dependência do Snap. Após mais de um mês sem receber, famílias relataram geladeiras vazias, racionamento extremo e medo de perderem o benefício devido a novas regras impostas pela lei orçamentária aprovada por Trump. Entre as mudanças, exigência de 80 horas mensais de trabalho para adultos entre 18 e 64 anos e cortes para famílias sem idosos ou pessoas com deficiência. Especialistas afirmam que milhões poderão ser excluídos.
O aumento da desigualdade aprofunda o problema. O 1 por cento mais rico ganha hoje mais de 80 vezes a renda dos 50 por cento mais pobres, e o coeficiente de Gini subiu de 0,45 em 1980 para 0,59 em 2023. Trabalhadores relatam dificuldades para manter padrão básico de vida, enquanto profissionais sociais denunciam pobreza extrema em regiões que contrastam com bairros de alto luxo a poucos quilômetros de distância.
A incerteza sobre o futuro preocupa beneficiários e pesquisadores. O governo Trump anunciou o cancelamento da pesquisa anual sobre insegurança alimentar, o que especialistas avaliam como tentativa de ocultar dados e facilitar cortes em programas sociais. Apesar da retomada dos repasses, o recadastramento nacional e as novas exigências elevam o temor de exclusão. Muitos beneficiários, inclusive apoiadores de Trump, afirmam estar decepcionados com o que classificam como falta de compaixão do governo.