Cristina Rocha, a mulher do taco, depõe hoje na polícia em inquérito sobre preconceito racial

Atualizado em 9 de junho de 2020 às 15:55
Bolsonarista com bandeira dos EUA é questionada por estar com taco de beisebol: “não é da sua conta”. Foto: Reprodução/Twitter

A mulher bolsonarista que provocou manifestantes pró-democracia com um taco de beisebol no ato do dia 31 de maio na Paulista está sendo aguardada hoje na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

Cristina Maria Rocha de Araújo é investigada por crime de preconceito racial, conforme informou a Secretaria de Segurança Pública, mas por fatos anteriores ao dos atos na Paulista.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública não informou que delito é esse. Em resposta ao DCM, a resposta foi sucinta:

“A Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi) tem um IP instaurado, em 02 de abril, que apura crime de preconceito racial, no qual a mulher figura como investigada. A apuração ainda está em andamento para constatar se houve crime.  O caso é anterior aos fatos mencionados no último domingo.”

Questionada sobre que caso seria este, a Secretaria de Segurança Pública não informou. Cristina, ao embarcar sábado passado em avião para Brasília, disse em grupo de WhatsApp que conversaria com o general Alberto Heleno, ministro do Gabinete Institucional (GSI), e que o inquérito em São Paulo acabaria revertido em seu favor.

O GSI, responsável pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), não tem ascendência direta sobre a Secretaria de Segurança Pública em São Paulo, mas se deve considerar que o titular da pasta hoje é um general, João Camilo Pires de Campos, já na reserva, formado na Academia Militar de Agulhas Negras em 1976, quatro anos depois do general Heleno.

Cristina Araújo já protestou até em frente à casa do governador João Doria, oportunidade em que pediu sua renúncia por conta do decreto de quarentena, e gravou um vídeo, juntamente com Paulo Kogos.

Nesse vídeo (veja abaixo), ela diz ser amiga do Campos, secretário de Segurança Pública de São Paulo.

“Estou em casa aqui”, diz ela. Cristina é filha do coronel Virgílio da Silva Rocha, que foi professor em academia militar e não se envolveu na repressão na época da ditadura.

No mesmo vídeo, Paulo Kogos conta que os dois participaram juntos de um ato xenófobo em São Paulo. Era contra os muçulmanos.

“A Cris Rocha esteve comigo lá na avenida Paulista segurando a única faixa que alertou o povo brasileiro contra a verdadeira epidemia que ameaça o Ocidente, que é a epidemia do Islamismo”, declara Kogos.

“Foi há quatro anos”, interrompe Cristina.

“Nós seguramos a faixa ali, em apoio ao povo de Israel”, retoma Kogos.

“Exatamente”, concorda Cristina.

“Contra o Islã, contra a islamização do Brasil. Só nós tivemos coragem de fazer isso”, finaliza Kogos.

Como esse fato foi em 2016, dificilmente seja esta a causa da investigação a que Cristina responde. Há, portanto, outro suposto fato de preconceito racial (o caso do Islã seria a somatória de preconceitos racial e religioso) que envolve a mulher do taco de beisebol.

A Delegacia já está preparada para tomar o depoimento de Cristina Maria Rocha de Araújo. Resta saber se ela comparecerá.