Cristovam também deu um golpe em Eike? Por Marcos Sacramento

Atualizado em 30 de setembro de 2016 às 17:27
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No depoimento à Operação Lava Jato onde explica doações que fez a políticos e partidos, o empresário Eike Batista tece um discreto elogio ao senador Cristovam Buarque, que teria recebido R$ 100 mil reais via caixa dois.

Para o ex-bilionário, Buarque é um homem educado, o único a agradecer o mimo do empresário, apesar de não se conhecerem pessoalmente.

O comentário de Eike condiz com o perfil construído por Cristovam Buarque ao longo de décadas de vida pública.

Doutor pela Sorbonne, professor universitário, ex-reitor da UnB, ministro da Educação no governo Lula, autor de 33 livros, conseguiu transmitir uma imagem de sofisticação intelectual, com a qual conquistou um bom número de admiradores.

Sua ênfase em pautas voltadas ao tema da educação e a participação nas discussões em defesa da regulamentação da maconha contribuíram para o reforço do nome de Buarque como liderança progressista.

Cristovam é a antítese, só para citar um exemplo, de Magno Malta. Com aquela pinta de apontador do jogo do bicho, o senador do Espírito Santo abusa da fala histriônica, proselitismo religioso e pautas políticas sob medida para encantar o eleitorado acéfalo.

Curiosamente, o momento em que a polidez de Cristovam em relação aos outros políticos se sobressaiu jogou holofotes à sua mediocridade, já exposta na batalha em defesa do impeachment de Dilma Rousseff.

Ele, que posa de bom moço e se esforça em engenhosos artifícios discursivos para tentar fugir do estigma de golpista, caiu na vala comum dos suspeitos de receberem doações financeiras por baixo dos panos. Apesar de divergir na aparência, a essência o aproxima do Magno Malta.

Algo semelhante acontecia com os cartéis de Medellin e Cali, segundo a série Narcos. “O Cartel de Medellin era Miami: piscinas, garotas de biquíni, cafona como um Cadillac de duas cores. O cartel de Cali era Nova York: elegante, suave sutil”, diz o narrador em um dos episódios da primeira temporada.

Enquanto o bando de Escobar era ordinário, rude e exibia os peitos cabeludos através das camisas abertas, a facção de Cali era bonitinha. Vestia-se com elegância e sabia manipular os talheres com classe.

A diferenças, contudo, ficavam por ali. Despojados das roupas e dos trejeitos, os dois cartéis estavam imersos na mesma atmosfera de cocaína e sanguinolência.

O Senado brasileiro também tem os bonitinhos e os ordinários. E de vez em quando um desses bonitinhos se revela o mais rastaquera dos ordinários.