Críticas ao governo pegam mal na Paraíba e fazem Hugo Motta mudar discurso

Atualizado em 5 de julho de 2025 às 15:37
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O recuo do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), em sua ofensiva contra o governo Lula revela mais do que um gesto de conciliação institucional: expõe uma contradição entre o discurso populista e a prática política voltada à elite econômica.

Deputado por um dos estados mais pobres do Brasil, Motta vinha defendendo, sem disfarces, pautas econômicas que interessam aos super-ricos, como a resistência ao avanço de uma reforma tributária justa. O problema é que essa agenda começou a incomodar seus próprios eleitores.

O alerta veio de aliados locais: o discurso alinhado com os interesses da Faria Lima — e contrário à taxação de grandes fortunas ou de fundos exclusivos — estava pegando mal na Paraíba, onde a desigualdade social salta aos olhos.

Motta, que chegou a gravar um vídeo com críticas duras ao governo federal, dizendo que “quem coloca um contra o outro governa contra todo mundo”, percebeu que, ao se afastar de pautas populares, acabava se afastando também da base que o elegeu.

A tentativa de se reposicionar veio logo após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que suspendeu decretos do Executivo e da Câmara sobre o aumento do IOF. Diante da repercussão negativa, Motta mudou o tom e passou a dizer que está “aberto ao diálogo”.

O gesto, contudo, soa como oportunismo político típico de quem já conhece a máxima de que o povo pode até ser paciente, mas não é bobo. Ao se alinhar com o topo da pirâmide e ignorar os que vivem da base, o deputado revelou sua prioridade: manter poder e prestígio, mesmo que isso custe o interesse coletivo.

A expectativa agora é que ele tente reconstruir pontes com o Planalto e suavizar o desgaste com o eleitorado. Mas a movimentação deixa claro que, quando precisou escolher entre o povo e os bilionários, Hugo Motta já mostrou de que lado está. E, por ora, não foi o da Paraíba.