Cuide de sua vida e nos deixe em paz, Ana Paula Valadão. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 21 de maio de 2016 às 12:21
Fundamentalista: Ana Paula Valadão
Fundamentalista: Ana Paula Valadão

Dizem os evangélicos que Deus é o provedor de todas as coisas (se não me engano, pois não frequentei a cataquese). Se é assim, ele bem que poderia ter dado um pouco de bom senso a Ana Paula Valadão, para que a moça defendesse as próprias ideologias sem passar tanta vergonha.

Se bem que, a essa altura, a ideologia cristã, quase sempre desprovida de humanidade e do respeito pelo próximo – a bíblia até que fala disso, mas os crentes não aprendem -, é, por si só, avessa ao bom senso.

A cantora gospel teve a infeliz ideia de se pronunciar em favor do boicote a uma marca de roupas que apoia a quebra dos tabus de gênero. A moça descreveu, com um espanto de dar dó, o comercial em que homens vestem ‘roupas de mulher’ e vice-versa, como se isso fosse uma espécie de afronta à ideologia cristã – posso ver a cara dela digitando: “Eles usam até salto!”

É engraçado, para não dizer preocupante, ver como os fanáticos religiosos agarram-se a uma “Verdade Imutável” (palavras da própria Ana, com letra maiúscula e tudo) que seguem nela como burros com seus arreios e tapa-olhos, que não procuram sequer conhecer, de fato e com o mínimo de senso crítico, a palavra do deus que seguem. Se Ana Paula Valadão o tivesse feito, certamente saberia que jesus usava túnica e que nunca condenou ninguém pela roupa que vestia.

Mas ela prefere se agarrar à máxima gasta de que “deus fez homem e mulher” para justificar a própria ignorância e, de quebra, ganhar um pouco de Ibope, porque anda precisando.

Antes que se manifestem os adeptos da cristofobia, garanto: o que me incomoda não é a ideologia cristã. Cada qual no seu cada qual, como diria a minha mãe. O que me incomoda é a mania fundamentalista dessas pessoas, é a certeza pretensiosa de que podem influir na vida de quem quer que seja com o que pensam ser o certo.

Essa gente pensa que é filha do dono do mundo – literalmente – e que pode sair por aí dizendo o que os outros devem vestir e com quem devem trepar. Acham que podem dispor sobre os nossos úteros, sobre o que falamos, o que pensamos e o que lemos porque, afinal, papai do céu disse.

Mas já que se preocupam tanto com o que papai do céu disse, poderiam aproveitar e conhecer a bíblia de verdade, não apenas nos pontos que lhes interessa. Poderiam seguir à risca aquela coisa de amar ao próximo como a si mesmo, poderiam praticar a humildade – Ana é tão humilde que costuma fazer compras nos EUA – poderiam pregar o amor e não o ódio.

Mas, da bíblia, eles só entenderam a parte que diz que Deus fez o homem e a mulher (ou então eles não entenderam nada).

Há uma frase de Bukowski que jamais foi tão providencial quanto agora:

“A bíblia diz: Amai ao próximo. Isso pode significar algo como: deixe-o em paz.”