Cumprida mais uma fase do golpe no TSE, começa o plano B da democracia. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 1 de setembro de 2018 às 6:21
Dodge, Barroso e Rosa no TSE

Liderado pelo ministro Luís Roberto Barroso, a tropa de choque do TSE cumpriu na noite dessa sexta (31) parte fundamental do golpe parlamentar que depôs a presidenta Dilma Rousseff e aleijou a democracia brasileira.

Completos dois anos em que uma quadrilha ascendeu ao poder, não haveria data mais simbólica para que as forças obscuras que pôs uma nação de joelhos reiterassem o seu compromisso com a vassalagem e a desordem republicana desse país.

Numa das mais grotescas demonstrações de violência e insensibilidade contra a Constituição Federal, a vontade popular e aos tratados internacionalmente pactuados, Barroso se mostrou especialmente dissonante a tudo o que poderia minimamente lembrar o que viria a ser um juiz.

Como que a julgar um inimigo pessoal, não se limitou à matéria do que estava tratando e atacou tudo e todos que ousaram defender a igualdade de direitos entre os candidatos e o papel do Brasil frente aos acordos internacionais que assinou.

No fim, o mundo presenciou o desenrolar de nosso apequenamento democrático e diplomático no estupor de uma farsa em que seus principais atores se deram ao luxo de encenar divergências e lampejos de sensatez jurídica justamente por quem mais obscurece o devido processo legal.

Não deixa de ser um toque de sadismo o fato de ter cabido ao ministro Edson Fachin, o papel de contrapor a virulência inicial do seu colega Barroso.

Único voto a favor da permanência da candidatura do ex-presidente Lula, Fachin defendeu a devida obediência do que determinou o Comitê dos Direitos Humanos da ONU.

Numa longa dissertação acerca dos compromissos adquiridos pelas nações que, de vontade própria, aderiram a pactos internacionalmente reconhecidos, proporcionou a falsa sensação de que nossas instituições funcionam livremente.

O que a princípio poderia parecer o livre e soberano desabrochar de um debate plural e evoluído, serviu apenas para descortinar o que viria pela frente.

O que se viu após o seu voto foi o que alguém poderia comparar com o ataque último de uma alcateia de hienas que avançam covarde e violentamente contra uma presa indefesa.

Já não existiam mais divergências, já todos caminhavam uníssonos em direção ao grande ato da noite. Concluído o voto da presidente da casa, Rosa Weber, o placar marcou o resultado que dava cabo ao desfecho de uma grande trama elaborada por quem de pior foi projetado pela política nacional.

Lula, finalmente, está fora da corrida eleitoral.

Mas nada disso é surpresa. Consumado mais um ato do golpe, dá-se início ao plano B da democracia.

Fernando Haddad e Manuela D’Ávila agora seguem como nossa única e última chance de reverter o golpe e restabelecer a ordem democrática num país em que os três poderes foram tomados por ideólogos de uma jurisprudência forjada na lavra de bandidos e quadrilheiros.

O jogo segue conforme o esperado. O final, porém, só será decretado após o último voto apurado.

E é nesse campo, onde entra em cena a vontade soberana do povo, que definitivamente saberemos se ocupamos de fato uma nação ou simplesmente uma grande e tropical senzala.