Cunha acha que quem o apoia em nome do impeachment é burro ou mal intencionado — e ele está certo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 9 de dezembro de 2015 às 18:05
cunha na câmara
Amor verdadeiro

 

Mark Twain um dia disse o seguinte: “Temos o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar”. No caso brasileiro, o dinheiro comprou o pior, o que é constatado após cada show de Eduardo Cunha e seus comparsas.

Os paus mandados conseguiram adiar pela sexta vez (sexta) a sessão do Conselho de Ética que deveria julgar o patrão. É comovente a tranquilidade com que sua tropa de choque passeia naquele lodaçal, berrando, ameaçando, absolutamente coordenada, bem ensaiada, enquanto os demais assistem passivamente.

Cunha subjuga aqueles homens e eles se sentem orgulhosos disso. O deputado Manoel Junior, do PMDB da Paraíba, fez uma intervenção e expulsou do cargo o relator favorável ao prosseguimento do processo (Manoel é uma das substâncias mais similares a um tumor que você vai encontrar na forma humana, e olha que a concorrência ali é duríssima).

É um achincalhe. O site Congresso em Foco fez um belo levantamento da ficha dos parlamentares da comissão que vai analisar o impeachment. Dos 61, pelo menos vinte respondem a acusações de crime no STF. Crimes de responsabilidade, corrupção, lavagem de dinheiro, eleitorais etc. Junte-se a essa canalha Marco Feliciano e os Bolsonaro, Jair e Eduardo.

Alguém escreveu, durante o show de hoje, que se aquilo é um Conselho de Ética, imagine o Conselho dos FDP. O Movimento Brasil Livre, que em maio posou para uma foto imortal com o dedinho pra cima na sala de Cunha e renegou o líder em seguida, estava na Câmara aplaudindo as chicanas, o circo e o capo.

Mais do que nunca, é preciso lembrar: se você apoia Cunha, você é igual a Cunha. Não há qualquer atenuante para isso. “Primeiro ela, depois ele”. Mentira. Ele permanecerá, eventualmente representado pelos peões que comanda, entre eles Michel Temer. Quem apoia Cunha é cúmplice desse assalto. Ponto.

Ele tem desmoralizado a democracia brasileira de maneira acintosa desde janeiro, quando foi eleito para a presidência da Câmara. Sequestrou um país, que assiste impotente um psicopata jogar para cima e para baixo a Constituição.

Viola os valores mais básicos, montado no apelo demagógico de que será a solução mágica para todos os problemas. Proporciona um espetáculo dantesco que somos obrigados a tolerar. A profunda desfaçatez de seu discurso é perfeitamente compatível com a profunda desfaçatez de seu público-alvo.

Cunha oferece o escárnio e o desprezo a seus fãs. Ele descobriu que pode fazer o que quiser diante de uma parcela da população porque, no final das contas, são todos feitos do mesmo material.

Depois que foi destituído do posto de relator do processo que investiga o presidente da Câmara, Fausto Pinatto contou das ameaças que sofreu. “Eu fui abordado em aeroporto. Meu motorista foi abordado por pessoas desconhecidas. O que eu passei eu não desejo a ninguém. Me abordaram pedindo para eu pensar na minha família, dizendo que tenho filho pequeno, que tenho família”, afirmou. “Cheguei a pensar que poderia morrer, sim.”

Cunha acha que quem está ao seu lado é burro demais, ou mal intencionado demais, para enxergar suas intenções. E ele está totalmente certo.