Cúpula do Mercosul fica sem declaração após embate entre Lula e Milei sobre Venezuela

Atualizado em 20 de dezembro de 2025 às 19:30
Javier Milei e Lula na 67ª Cúpula do Mercosul. Foto: reprodução

A divergência sobre a escalada militar dos Estados Unidos contra a Venezuela dominou a abertura da 67ª Cúpula do Mercosul, realizada neste sábado (20), em Foz do Iguaçu, e expôs um racha político entre Brasil e Argentina.

Discursos consecutivos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do argentino Javier Milei deixaram claro o impasse em torno da postura regional diante da ofensiva estadunidense, levando o encontro a terminar sem uma declaração conjunta dos chefes de Estado.

Como anfitrião da cúpula, Lula adotou um tom crítico à ampliação da presença militar estadunidense no entorno da Venezuela e alertou para os riscos de uma intervenção armada no país vizinho. Segundo o presidente brasileiro, a escalada representa uma ameaça direta à estabilidade da América do Sul e aos princípios do direito internacional.

“Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados”, afirmou Lula na abertura da reunião.

Para ele, a possibilidade de ação militar teria efeitos devastadores. “Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”, disse.

As declarações do presidente brasileiro fazem referência direta à estratégia adotada pelo governo Donald Trump, que desde agosto intensificou a presença militar na América Latina e no Caribe sob o argumento de combate ao tráfico internacional de drogas. A movimentação inclui o deslocamento de navios de guerra e ações de interdição de embarcações ligadas ao petróleo venezuelano, ampliando a tensão diplomática na região.

Em sentido oposto, Javier Milei utilizou sua fala para endossar a política de pressão de Washington. O presidente argentino classificou o governo de Nicolás Maduro como uma “ditadura atroz e inumana” e chamou o líder venezuelano de “narcoterrorista”, ecoando as acusações sem provas de Trump.

“A Argentina acolhe com satisfação a pressão dos Estados Unidos e de Donald Trump para libertar o povo venezuelano. O tempo da timidez nesta questão já passou”, declarou.

A postura de Milei, um dos principais aliados de Trump na América do Sul, evidenciou a ausência de convergência entre os dois maiores sócios do Mercosul sobre como lidar com a crise venezuelana e sobre o papel das potências extrarregionais no continente. O contraste político foi um dos fatores que impediram a construção de um texto comum ao fim da cúpula.

Nos bastidores, auxiliares do governo brasileiro avaliam que o tom adotado pelo presidente argentino dificulta qualquer tentativa de mediação regional. Lula, por sua vez, tem reiterado a defesa do diálogo. No início de dezembro, ele manteve conversas telefônicas tanto com Maduro quanto com Trump.

Segundo o presidente brasileiro, a ligação com o venezuelano durou cerca de 40 minutos e buscou entender de que forma o país poderia contribuir para uma saída negociada.

Em contato posterior com Trump, Lula disse ter colocado o país à disposição para colaborar com uma solução diplomática, desde que haja disposição real para o diálogo entre as partes. A defesa do Brasil é que a América do Sul permaneça como uma zona de paz, evitando a repetição de conflitos armados que marcaram o passado do continente.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.