Da cúpula do Exército para Bolsonaro: toma que o filho é teu. Por Helena Chagas

Atualizado em 12 de novembro de 2018 às 6:52

Publicado originalmente no site Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS

Toma que o filho é teu. Esse foi o principal recado do comandante do Exército, general Villas Bôas, em entrevista à Folha de S.Paulo neste domingo, quando disse que o futuro governo Bolsonaro não representa a volta dos militares ao poder: “Absolutamente não é”. Villas Bôas verbalizou publicamente o que vem sendo dito nos bastidores por generais de três e quatro estrelas: Bolsonaro não os representa na presidência da República.

Aliados de Bolsonaro não gostaram da entrevista, que expressou um distanciamento da cúpula do Exército em relação ao futuro governo e deu nome aos bois: segundo Villas Bôas, Bolsonaro é “muito mais um político do que um militar”. Mas ela expressa rigorosamente o que se diz nos gabinetes militares de Brasília, onde militares de alta patente dizem ter votado em Bolsonaro por falta de opção- já que não queriam o PT de volta – e agora temem que eventuais desgastes e fracassos do novo governo acabem grudando nas Forças Armadas. Elas não querem ser sócias de Bolsonaro nesse empreendimento, preferindo manter o papel constitucional que vêm desempenhando desde que saíram do cenário politico.

O temor de politização dos militares menos graduados – também expresso na entrevista do comandante- está presente nas conversas, e por isso sua substituição no comando do Exército será feita com enorme cuidado, recaindo sobre um general com discurso firme a favor do cumprimento estrito da Constituição e das atribuições nela previstas para as Forças Armadas, afastando qualquer hipótese de intervenção militar.Lembram ainda que o presidente eleito tem, sobretudo, uma imagem de capitão rebelde entre seus ex-companheiros de Exército, que nunca apoiaram sua retórica radical. A escolha do general de quatro estrelas Hamilton Mourão para a vice de Bolsonaro também não facilita as coisas. Mourão se reformou, no início deste ano, depois de diversos episódios de desentendimento com seus superiores, alguns em que defendeu posições polêmicas a favor de intervenção militar e outros radicalismos.

De certa forma, as palavras de Villas Bôas serviram para tranquilizar setores políticos, que devem fazer ressoar esse discurso nos próximos dias.