Por Jeferson Miola:
O golpe continuado, ou seja, o aprofundamento permanente do Estado de Exceção rumo ao precipício fascista sempre esteve presente no campo das possibilidades desta longa, interminável e trágica conjuntura aberta em 2013 e acelerada a partir do impeachment fraudulento da presidente Dilma em 2016.
Os militares sabem que na democracia e dentro das regras do Estado de Direito não conseguem reeleger Bolsonaro. E sabem, também, que é só nos terrenos do golpismo e do terrorismo – inclusive com o assassinato do Lula – que residem as chances de eles impedirem a eleição do ex-presidente petista em outubro.
Eduardo Bolsonaro disse que “o problema não é mais se, mas quando haverá uma ruptura”. O golpe seria, portanto, apenas uma questão de tempo; de quando.
O extremista disse, ainda, que “para fechar o STF não é preciso nem mesmo um jipe”; basta um soldado e um cabo. E, para o papel de cabo e soldado do fascismo no Supremo, o governo militar indicou André Mendonça e Kássio Nunes Marques.
Apesar das repetidas ameaças do Bolsonaro e dos generais de que “sem voto impresso não haverá eleição”, como o próprio Bolsonaro proclamou ao mundo em encontro com embaixadores de dezenas de países nesta segunda-feira [18/7], assim mesmo muita gente ainda menospreza ou duvida da existência do plano golpista dos militares.
Encabeçando a operação conspirativa e de desestabilização política e institucional junto com Bolsonaro está ninguém menos que Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, general-ministro da Defesa. Paulo Sérgio é avalizado pelo Alto Comando do Exército na cruzada criminosa contra a democracia – assim como o general Villas Bôas foi avalizado pelo Alto Comando para assinar o famoso tweet de 3 de abril de 2018 com o objetivo de emparedar o STF.
Nas últimas semanas, a escalada da ofensiva das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas sobre o TSE e o STF deixou muito evidente o papel absolutamente central dos militares na conjuntura.
A essas alturas, portanto, com tão ruidosa atuação dos militares e suas promessas de caos e tumulto na eleição, nem mesmo alguém acometido do mais doentio quadro de negação da realidade conseguiria continuar negando tantas evidências.
É significativo, neste sentido, que muitos parlamentares, lideranças políticas, autoridades públicas e analistas finalmente tenham passado a reconhecer, com todas as letras, as ameaças dos militares à eleição e à democracia.
A superação do ciclo da negação, todavia, não significa, automaticamente, o início de reações ativas e vigorosas para deter o avanço do projeto de poder dos militares e a escalada fascista-militar.
A negação deu lugar à contemplação. Agora a ruptura institucional passou a ser contemplada como um dado da realidade; como um fato inexorável, como algo que fatalmente deverá acontecer. Tornamo-nos, assim, meros espectadores de um processo inescapável.
A pergunta prevalente deixou de ser sobre se e quando os militares darão o golpe, mas como será o golpe. É como se estivéssemos assistindo contemplativamente a uma novela que está sendo rodada em câmera lenta, com seus capítulos se desenrolando diariamente até que aconteça o epílogo trágico.
A Câmara dos Deputados e a Procuradoria-Geral da República são controladas por colaboracionistas do fascismo que nada farão para defender o pouco que ainda resta de democracia.
Somente a ampla mobilização social será capaz de deter o avanço do golpismo e do fascismo e de obrigar que a Câmara e a PGR, assim como o STF, cumpram suas obrigações constitucionais para proteger e salvar a democracia.
Superada a negação da realidade, é crucial agora se superar este ciclo de contemplação paralisante da realidade e se partir para a ação urgente de combate ao projeto de poder dos militares.
A campanha Lula-Alckmin e as organizações sindicais, populares e democráticas do Brasil têm em suas mãos a complexa responsabilidade de organizar esta resistência popular massiva contra a escalada fascista-militar.