Dá pra torcer pela seleção do Neymar com essa camiseta dos patriotas? Por Nathalí

Atualizado em 19 de novembro de 2022 às 19:50
Manifestação bolsonarista no QG do exército, no setor Militar Urbano. Foto: Reprodução/Carlos Vieira/CB/DA.Press

Dizem os mais velhos que futebol e política não se misturam, mas nem eu, nem a própria História acreditamos nessa balela.
Desde a década de 30 os governos vêm usando o futebol como vitrine política – já que o potencial do esporte mais popular do mundo não seria tão facilmente desperdiçado. Isso acontece principalmente em governos ditatoriais, como forma de controle social.

Não é à toa que, em 2021, Bolsonaro esteve se reunindo com o então presidente da CBF, Rogério Caboclo. Não é à toa que buscou o apoio de Neymar – e conseguiu, graças ao fato de o jogador dever mais impostos do que eu devo respostas no WhatsApp.

Desde Médici, política e futebol andam lado a lado.

No tri, em 1970, a delegação estava recheada de parlamentares. Já a Copa do México, primeira exibida na televisão brasileira, foi mais uma vez vitrine, usada para mostrar o efeito da modernização tecnológica que o governo trouxera ao país.
Não há muito espaço para discussão, porque a história testemunhou: política e futebol se misturam, sim, e muito.
É precisamente por isso que Bolsonaro tentou melhorar sua imagem no país aliando-se a um jogador antes festejado. Em vez de melhorar sua imagem, no entanto, estragou a do rapaz. Claro que ele continua rico, mas perdeu prestígio e contratos.

Perdeu fãs, admiradores, torcedores.

Quem se sente à vontade para usar uma camisa verde e amarela depois de tantos memes, mesmo sabendo que a bandeira é de todas?

Sinto muito, mas a minha será branca. Se eu comprar.

Quem torce pra um sonegador bolsonarista que, além de flertar mal pra caramba, não sabe votar?

Com essa seleção empestiada de patriotas, a vontade é torcer pela Argentina. Torcer pra Neymar fingir três quedas e levar cartão vermelho. Pra ter outro Davi Luiz chorando na TV. Torcer, quem sabe, pra um 8 a 1 dessa vez.

A vitória que a gente queria chegou – e não veio do patriotismo, nossa vitória foi vermelha como nossos corações.
E o que eles chamam de patriotismo, infelizmente, agora nos ofende.

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Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.