Da violência doméstica ao bolsonarismo: como Tagliaferro virou “arma” por anistia

Atualizado em 3 de setembro de 2025 às 18:50
Eduardo Tagliaferro e Alexandre de Moraes. Foto: reprodução

Após a última sessão da Comissão de Segurança Pública, o presidente do núcleo, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), afirmou que enviará ao governo dos Estados Unidos um relatório com denúncias contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento se baseia no depoimento de Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), prestado na última terça-feira (2).

Tagliaferro é perito computacional e ex-assessor de Moraes no TSE, cargo que ocupou de agosto de 2022 até ser exonerado, horas após ser preso em Caieiras, na Região Metropolitana de São Paulo, sob suspeita de violência doméstica. De acordo com boletim de ocorrência, ele chegou em casa alterado e ameaçou a esposa. Durante a discussão, teria ido até o quarto do casal e disparado um tiro. A vítima relatou que correu para a garagem com as filhas.

O caso foi registrado como violência doméstica, disparo de arma de fogo e ameaça. A arma e as munições foram apreendidas, e a perícia e exame residuográfico foram requisitados. O TSE informou que o assessor foi exonerado “devido à sua prisão em flagrante por violência doméstica e aguardará a rigorosa apuração dos fatos”.

O perito trabalhou em tribunais de várias regiões do país e chegou ao TSE por indicação do ministro, com a missão de coordenar a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação.

Após sua exoneração, ele rompeu com Moraes e se alinhou ao bolsonarismo, passando a ser utilizado como exemplo de supostas arbitrariedades do ministro. Tagliaferro é alvo de bloqueio de contas bancárias e chegou a ameaçar ir aos Estados Unidos para pressionar autoridades do país a aplicar sanções contra Moraes.

“Um Eduardo incomoda muita gente, dois Eduardos incomodam muito mais”, publicou o perito, referindo-se à atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O deputado Eduardo (PL-SP) e Flávio (PL-RJ), filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Segundo Tagliaferro, Moraes teria autorizado buscas contra empresários aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) baseadas apenas em uma reportagem jornalística, anexando posteriormente a fundamentação jurídica com data retroativa. Para Tagliaferro, isso configuraria fraude processual.

Em agosto de 2024, o jornal Folha de S. Paulo divulgou diálogos internos da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, revelando que o órgão chefiado por Tagliaferro foi acionado para auxiliar Moraes em inquéritos no STF. O gabinete do ministro afirmou que todas as ações foram feitas seguindo os termos regimentais.

A Polícia Federal iniciou investigação para apurar o vazamento das mensagens, resultando na apreensão do celular do perito em agosto de 2024 e seu indiciamento em abril de 2025.

Desde então, Tagliaferro tem dado entrevistas para veículos alinhados ao ex-presidente Bolsonaro e reutilizado os cortes para alimentar seus perfis nas redes sociais. Em seus posts, aborda temas como “perseguição política”, “censura” e “desequilíbrio dos Poderes”, ameaçando revelar novas conversas sobre supostos atos ilícitos de Moraes à frente do TSE.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.