Dallagnol era estagiário de Sergio Moro na caçada a Lula. Por Moisés Mendes

Atualizado em 2 de fevereiro de 2021 às 11:05
Dallagnol e Moro

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Moisés Mendes

Há mais do mesmo nas novas conversas entre Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros procuradores que trabalhavam para o juiz em Curitiba como se fossem estagiários do Ministério Público.

A novidade nas mensagens divulgadas nessa segunda-feira é a exacerbação do tom da caçada a Lula. Ele sofreu mesmo uma perseguição política.

Alguns trechos das conversas não escondem que a argumentação jurídica é o de menos, que vale a imposição de fatos políticos, para que Lula não seja considerado vítima nem mártir.

A Lava-Jato é parte do cenário geral de degradação de condutas no Brasil. A direita brasileira nunca foi tão chinelona como nos últimos anos.

Foi chinelona no golpe contra Dilma, quando o Brasil arcaico e os coronéis da Paulista (há quem ache que foram os americanos) deixaram claro que não aguentariam mais perder eleições, que ganhariam de qualquer jeito.

A direita foi chinelona ao criar o ambiente para explicitação do caráter de políticos e de boa parcela dos brasileiros com a ascensão de Bolsonaro. Nunca o Brasil teve um presidente tão chinelão.

E foi chinelona na perseguição a Lula, com a montagem de uma força-tarefa em Curitiba que misturou Ministério Público e Judiciário, como se todos fossem a mesma coisa, sempre com o MP subordinado ao juiz escalado para destruir Lula.

É o que aparece de novo nas novas conversas reveladas, agora com diálogos ainda mais promíscuos. É Moro quem manda em Dallagnol, e o procurador se submete a Moro como um subalterno obediente.

A posição de subserviência de Dallagnol deveria constranger o Ministério Público, mas o que fez o MP para revelar esse constrangimento?

Os diálogos por troca de mensagens denunciam um Dallagnol infantil e simplório. Ele e Sergio Moro eram dois deslumbrados com a possibilidade de virarem heróis no Jornal Nacional, em filmes, livros, banquetes, séries.

Mas há sempre o detalhe revelador da posição de cada um: Moro manda e Dallagnol obedece.

Obedece tanto que não faz nada antes de comunicar seu chefe. Dallagnol rasteja diante de Sergio Moro a quem chama todo tempo de ‘meu caro’.

Um servidor que seria da elite, e que por isso teria sido escalado para o trabalho em Curitiba, fica exposto como um serviçal sob as ordens não do MP, mas de um juiz.

Dallagnol só se mexe se Moro aceitar que se mexa, se recomendar que vá adiante em qualquer decisão e se não colocar dúvidas sobre seu trabalho feito com afinco. Dallagnol bajula Moro todo tempo.

Nem Moro nem Dallagnol são capazes de provar, por maior que seja o esforço de cada um, que são de fato parte de ume elite. Sabe-se hoje que os dois foram escolhidos porque fariam o serviço sujo para a direita, que assim abriria caminho para o golpe contra Dilma, a prisão de Lula e o fascismo de Bolsonaro.

A magistratura e o MP são coniventes com os delitos cometidos por Moro e Dallagnol. A dupla desqualificou as duas instituições, quando formou um time destinado a uma missão política.

As mensagens mostram que condenar Lula é livrar-se de um líder. As referências desrespeitosas de Dallagnol a Lula (como 9, ou nove dedos), as risadas com kkkk, a participação de outros procuradores em conversas de gângsteres, tudo poderia, se o caçado não fosse Lula, resultar no desprezo público e na condenação de Moro e de Dallagnol.

Entende-se que, ao abandonar a carreira, Moro estava assumindo o que havia sido combinado. Mas já sabia que não haveria como continuar como juiz.

Como não conseguiu prestar bons serviços a Bolsonaro e com isso perdeu a chance de ser ministro do Supremo, Moro é hoje advogado de bandido internacional.

E Dallagnol é um ex-palestrante e ex-gestor de uma fundação que quase existiu com R$ 2,5 bilhões em caixa (quando investigarão mesmo essa história?). Desgraçadamente, o estagiário de Moro ainda é procurador.