Danny Boyle reinventou a roda na abertura das Olimpíadas

Atualizado em 21 de novembro de 2012 às 20:42
Como será no Brasil em 2016?

 

Poucas coisas são mais chatas que aberturas de Olimpíadas.

É como sermão de padre ou discurso de político do interior: quanto mais curtas, melhor.

Que venham logo os jogos, você torce, entre bocejos, colocando bovinamente pipocas na boca diante da televisão.

Mas ontem foi diferente.

O responsável pela cerimônia de abertura dos Jogos de Londres, Danny Boyle, o cineasta de Trainspotting e Slumdog Millionaire, criou um espetáculo simplesmente soberbo. A vontade era que as disputas esperassem um pouco mais para que a festa montada por Boyle não terminasse.

A força da obra espetacular de Boyle – diante da qual Beijing 2008 ficou parecendo o Reveillon da avenida Paulista – residiu na celebração das pessoas que fizeram a Inglaterra ser o que é.

Foi, essencialmente,uma homenagem aos 99%. Doyle homenageou os trabalhadores esfolados na Revolução Industrial e as mulheres que lutaram epicamente no começo do século passado pelo voto que lhes era negado – as suffragettes. Louvou os jamaicanos miseráveis que vieram para a Inglaterra porque os colonizadores britânicos fizeram da Jamaica uma terra semiarrasada. Festejou as enfermeiras do NHS, o mitológico serviço público de saúde da Inglaterra – alvo de constantes tentativas de cortes da parte do governo conservador de David Cameron. Sublinhou o gênio artístico e criativo inglês, expresso em nomes tão diversos como Shakespeare, Milton, James Bond, Mr Bean, Beatles, Stones, Clash, Sex Pistols e Amy Winehouse.

Boyle

Boyle mostrou ao mundo – 1 bilhão de pessoas viram a abertura – o que os britânicos têm de melhor. Ele ignorou Margaret Thatcher, símbolo da iniquidade social, e fez de Churchill um coadjuvante cômico num dos melhores momentos da festa, a chegada – fictícia, claro — de James Bond e da rainha ao Estádio Olímpico num helicóptero do qual ambos se projetaram em páraquedas.

Um parlamentar conservador tuitou críticas ácidas a Boyle. Disse que nem na China comunista viu uma cerimônia tão “esquerdista”. Foi desautorizado dentro do próprio partido. O prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson, disse que, de tão emocionado, “chorou como Murray”. (Ele se referia ao tenista Andy Murray, que caiu num choro copioso depois de perder a final de Wimbledon.)

Boyle estabeleceu um novo paradigma em aberturas de Olimpíadas. Me pergunto aqui o que os brasileiros vão aprender com isso para 2016.

Quem poderia ser o Boyle nacional, alguém capaz de identificar os brasileiros que fizeram ser o país o que é? Rio comigo mesmo ao pensar em Jabor. Se ele recebesse a encomenda dada a Boyle, veríamos, ao contrário, a louvação do 1% — a começar, provavelmente, pelo nosso companheiro, o jornalista Roberto Marinho.