Datafolha sobre 64 é tira-gosto para o de amanhã. Por Fernando Brito

Atualizado em 6 de abril de 2019 às 9:12

Publicado originalmente no Tijolaço

Datafolha

POR FERNANDO BRITO

Um velho comediante, Lilico, batia um bumbo repetindo o bordão: “tempo bom não volta mais/saudades de um tempo de paz”.

A maior importância da pesquisa Datafolha sobre aprovação/rejeição a “comemorações” da ditadura militar não é a parcela que apoia esta sandice, esperável quando se constrói um clima de desânimo e insegurança que leva muita gente a se refugiar num passado imaginário, que nunca existiu, trocando pela falsa memória de um “tempo pretérito perfeito” a perda dos sonhos e esperanças.

Tirando a camada que se beneficiou do autoritarismo, por razões políticas, econômicas, corporativas, ideológicas ou todas elas, juntas e misturadas, é natural que isso ocorra nos tempos de crise – basta olhar a série histórica de pesquisas semelhantes – e mais ainda quando temos um presidente recém-eleito o estimulando.

O importante é que a pesquisa antecipa o que deve ser publicado hoje ou amanhã sobre a aprovação/rejeição ao Governo Bolsonaro, por ocasião da marca simbólica dos seus 100 dias de governo. E que, como já era antecipado por outras pesquisas, vai apontar que o atual presidente tem pouco mais ou pouco menos do que um terço da aprovação popular.

Essa é a realidade que interessa, não a dos “recuerdos de Ypacarai” dos saudosistas. Ela é quem deve nortear a ação política que precisa reunir os brasileiros, enquanto a direita só tem como bandeira reunir a si mesma, na agressividade, no fanatismo e na intolerância.

A estagnação econômica do país não se reverte, passados três anos do golpe que nos iria “salvar”. Só o que têm a oferecer é o discurso da ordem, da força, da brutalidade. E da indiferença social, que, ao contrário dos tambores militares, não ressoa no passado, mas no presente, anunciando os tempos mais bárbaros no futuro.

É por isso que o Datafolha em “conta-gotas”, dando precedência ao que não tem, é a anti-notícia, porque põe o secundário – talvez nem isso – à frente do principal.