DCM foi até o condomínio que liga o escândalo de Itaipu a Jair Bolsonaro. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 15 de setembro de 2019 às 10:22

A Comissão de Relações Exteriores do Senado instalou no dia 10 de setembro uma subcomissão para investigar o escândalo do tratado secreto entre os presidentes Jair Bolsonaro e Mario Abdo Benitez, em torno da hidrelétrica de Itaipu. O relator é o senador petista Jaques Wagner e a subcomissão terá 60 dias para concluir seus trabalhos — prazo que poderá ser prorrogado por igual período.

O grupo vai investigar a empresa beneficiada pelo acordo, a Léros, e o suplente do Major Olímpio, o empresário Alexandre Luiz Giordano.

Reportagem da revista Piauí publicada no dia 9 informa que Giordano se apresentava tanto como representante da Léros quanto do próprio governo Bolsonaro. A Léros tinha interesse na venda de energia excedente do Paraguai no mercado brasileiro.

No acordo, essa venda não deixa ser exclusividade da estatal de energia paraguaia, a Ande, em parceria com a estatal brasileira do setor, a Eletrobras.

O Grupo Léros, que explora uma jazida de nióbio, tem um braço que opera na área de compra e venda de energia.

Dirigentes da estatal paraguaia caíram depois do acordo e a revelação de seus termos por pouco não levou ao impeachment do presidente Mario Abdo Benitez.

O Diário do Centro do Mundo publicou há uma semana, com exclusividade, um perfil do empresário Giordano, com base nas informações de amigos próximos dele. Essas fontes relataram que o empresário enriqueceu em 10 anos com seis empresas e proximidade com políticos, de diferentes orientações ideológicas.

Ele conseguiu contratos públicos na prefeitura de Marta Suplicy, ganhou proximidade com os tucanos Bruno Covas e José Aníbal e, por fim, chegou até a família Bolsonaro, quando se tornou suplente na chapa do senador Major Olímpio.

Um dos elos entre Giordano e a família Bolsonaro se deu através da sede do PSL em São Paulo, que é presidido pelo deputado Eduardo, o 03 de Jair.

Segundo site oficial, o PSL está sediado em São Paulo avenida General Ataliba Leonel, 1205, Santana, Zona Norte da capital.

Consultando informações da Junta Comercial do Estado de São Paulo (JUCESP), no mesmo endereço constam duas empresas de Giordano, o suplente de Olímpio.

A primeira é a IBEF (Indústria Brasileira de Estruturas de Ferro), uma empresa do setor de mineração com capital de apenas R$ 100.

A segunda empresa dele no mesmo endereço da sede do PSL-SP é a Família Giordano Indústria e Comércio, que tem capital declarado de R$ 920.

O DCM foi até o endereço. O nome do edifício comercial é Mahattan Tower, ao lado de um sex shop e em frente a um batalhão da Polícia Militar.

Na recepção, o porteiro contou que o PSL não funciona mais lá.

“Eles se mudaram há três meses, em junho. Hoje ficam perto lá da Alesp (Assembleia Legislativa), no Ibirapuera”. A saída do PSL do prédio se deu no mesmo momento em que o escândalo estourou.

Perguntamos se ele conhecia as empresas IBEF ou Família Giordano. “Desconheço. Entrei há pouco tempo aqui. Mas outras pessoas vieram perguntar se a sede é aqui. Na internet, eles não mudaram o endereço, né?”, disse.

Confirmamos que não, e ele completou: “pois é, a sala que eles tinham aqui hoje está vazia”.

Eduardo impede o depoimento de Giordano

Reportagem de André Barrocal na revista CartaCapital, publicada no dia 13, informa que o deputado Eduardo Bolsonaro conseguiu evitar que Alexandre Giordano falasse no Congresso sobre o caso Itaipu.

A oposição queria uma audiência pública com o empresário, mas Eduardo obteve votos para impedir sua realização. Foi uma manobra incomum: como não havia votos suficientes para impedir a convocação de Giordano, Eduardo segurou a votação por uma hora e meia e saiu à caça de deputados alinhados ao presidente, via celular, para que fossem votar.

A proposta foi rejeitada por 20 votos, numa sessão com quórum mínimo.

Chamou a atenção o empenho de Eduardo Bolsonaro nesse assunto e fez aumentar a suspeita, dada como fato na imprensa paraguaia, de que a família Bolsonaro é ligada ao Grupo Léros.

Nesse caso, o acordo secreto entre o Brasil e Paraguai seria a concretização de um negócio privado da família, o que colocaria Bolsonaro, uma vez mais, sujeito a um processo por crime de responsabilidade.

O DCM entrou em contato por telefone e e-mail com os deputados Eduardo Bolsonaro (presidente do PSL SP) e Gil Diniz (o vice de Eduardo), além do senador Major Olímpio e seu suplente, Alexandre Giordano. Nenhum deles respondeu às perguntas da reportagem.

O espaço está aberto para manifestação deles.

Giordano e Major Olímpio: coincidências demais