De Brasília, Temer mandou a PM de SP “dialogar” com os ativistas que acamparam em frente à sua casa. Por Donato

Atualizado em 23 de maio de 2016 às 0:04

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“Quanto vale uma casa dessas, uns 2 milhões?” Respondo um ‘muito mais’ meio sem jeito.

Maia é da ocupação Esperança Vermelha, em Guaianazes, e estava impressionado com as casas do bairro onde vive Michel Temer. Maia faz então uma análise visual do espaço físico e não arrisca mais um valor de mercado que, pela minha resposta, percebeu estar totalmente equivocada. “Num espaço desse aí onde tem uma casa dá para morar umas 40 famílias.”

Estávamos no bairro Alto de Pinheiros e Maia havia caminhado juntamente com mais 30 mil integrantes do MTST desde o Largo da Batata até a praça em frente a casa do presidente temporário.

O MTST protesta contra a suspensão da contratação de mais de 10 mil moradias selecionadas no Minha Casa Minha Vida pelo  Ministério das Cidades e decidiu ir até a residência de Temer, Marcela e Michelzinho.

Encontrou porém um forte aparato policial que isolava todo o entorno. De onde havia o bloqueio não era possível nem mesmo enxergar a casa. Alegação: área de segurança nacional.

Guilherme Boulos, o deputado Ivan Valente e uma comissão que integra a Frente Povo sem Medo foram negociar com o comandante da operação. Longos e acalorados minutos depois, a resposta já mais que previsível: nada feito.

“Nós colocamos para eles que estamos hoje aqui exercendo nada mais que nosso livre direito de manifestação. Queríamos chegar a um local que nos é permitido. Mas disseram que a decisão veio de Brasília, da turma de Temer e seu ministro golpista da Justiça, nos impedindo de chegar até mesmo próximos”, me disse Guilherme Boulos.

“Ficou claro que é uma ordem que vem de cima. Mas há ordens que vêm de cima e ordens que vêm de baixo, do povo, da rua. Então é o seguinte, já que não podemos passar daqui, daqui não sairemos”.

E assim o MTST resolveu abrir acampamento e ocupar por prazo indeterminado a praça e a rua que dão acesso a casa do interino presidente.

“Aqui todos estão indignados com o golpe que ocorreu e por isso gritam ‘Fora Temer’. Pessoas que vieram de todos os cantos da cidade porque há poucos dias tiveram a notícia de que este governo cortou moradias. Este povo não vai recuar um passo”, afirmou Boulos.

“É muito importante a ocupação, é simbólico. Esse governo ilegítimo está sofrendo várias pressões e várias derrotas. Revogou uma portaria já contratada de moradias e agora terá que recuar também”, declarou o deputado Ivan Valente.

Já debaixo das lonas, uma mulher descansa. “Vamos ficar porque isso afeta todas as ocupações. E esse governo é um tremendo golpe e não acho certo tirar o direito do povo”, disse Thalita, moradora da ocupação Nova Palestina. “Só com o dinheiro roubado pelo Cunha, quantas casas daria para construir?”, emendou Maia que continuava chocado com as mansões ao redor.

Temer não estava em casa e ficará difícil para ele, a partir de hoje, voltar para ela. Talvez seja bom ele prestar atenção na trilha sonora que emanava do caminhão de som parado em frente sua rua: convoque seu buda, o clima tá tenso.

Por volta das 23h30 da noite de domingo, a PM recebeu ordens para desocupar a praça. Boulos mandou mulheres, idosos e crianças embora enquanto negociava.

Não houve acordo. À base de bombas de lacrimogêneo e cacetadas, a Tropa de Choque partiu para cima. A orientação de Boulos é resistir “pacificamente”.

Enquanto isso, na frente da Fiesp, meia dúzia de golpistas dormem o sono dos canalhas.

 

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