De fraude em vacinação a joias sauditas: polêmicas cercam Mauro Cid, o ‘faz-tudo’ de Bolsonaro

Atualizado em 3 de maio de 2023 às 14:18
Ex-ajudante de ordens no mandato presidencial de Bolsonaro, Mauro Cid também é alvo de investigação da PF por suspeita de coordenar suposto caixa 2 no Palácio do Planalto
Foto: Alan Santos/PR

Preso preventivamente nesta quarta-feira (3) por uma operação da Polícia Federal que investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid construiu um histórico de polêmicas e suspeitas ao longo de sua atuação, nos últimos quatro anos, como ajudante de ordens no mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Próximo da família Bolsonaro, Mauro Cid é filho de um ex-amigo do ex-presidente, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que cursou com Jair Bolsonaro a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), na década de 1970. Formado em 2000 na mesma instituição, com mais de 20 anos de Exército, Mauro Cid foi alçado ao posto de tenente-coronel pouco antes da posse do amigo do pai, em 2019.

Ele se preparava para avançar na carreira militar quando, após a eleição, desistiu de assumir uma função nos Estados Unidos, para aceitar o convite de ser ajudante de ordens do futuro presidente.

A atuação do assessor presidencial ganhou o primeiro grande “destaque” após o jornal O Estado de S. Paulo revelar conversas dele no WhatsApp com o blogueiro Allan dos Santos, do Terça Livre, investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito dos atos antidemocráticos.

A descoberta conectou diretamente o gabinete do então presidente às manifestações contra o Supremo, o Congresso e em defesa da ditadura no país, estimuladas pelo próprio Bolsonaro. Em outubro de 2021, Mauro Cid também foi indiciado pela PF por produzir e divulgar desinformação ao associar, erroneamente, a vacina contra a covid-19 ao vírus HIV em uma das lives semanais de Bolsonaro.

Caixa 2 e joias: mais polêmicas

Considerado um faz-tudo do ex-presidente, o tenente-coronel também é alvo de investigação federal que apura se ele operava uma espécie de caixa 2 no gabinete do Palácio do Planalto. De acordo com informações do site Metrópoles, Mauro Cid é suspeito de coordenar desvios de dinheiro vivo e até saques de recursos dos cartões corporativos.

Entre as contas pagas pelo ajudante de ordens, estariam faturas de um cartão de crédito usado pela ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, mas emitido em nome de uma amiga dela, Rosimary Cardoso Cordeiro. Atualmente ela é funcionária do Senado lotada no gabinete do senador Roberto Rocha (PTB-MA), mas já foi assessora de deputados na Câmara.

Mauro Cid também está envolvido no caso da apropriação ilegal pelo primeiro casal das joias presenteadas pelo governo da Arábia Saudita. Ele foi o primeiro a ser escalado para resgatar pessoalmente as peças do primeiro conjunto recebido, avaliadas em R$ 16,5 milhões, que ficaram retidas na alfândega de São Paulo.

Conforme reportou a RBA, o tenente-coronel pediu “urgência” na liberação de um avião da FAB que levou um sargento da Marinha ao aeroporto de Guarulhos na tentativa de reaver as joias. Este, por sua vez, tinha em mãos um ofício assinado por Mauro Cid à Receita Federal determinando a “incorporação de bens apreendidos”.

Essa tentativa ocorreu em 28 de dezembro do ano passado, nos últimos dias do governo Bolsonaro. Mas os funcionários da Receita resistiram à pressão e não liberaram as joias. Mauro Cid e o o ex-chefe da Receita Federal Julio Cesar Vieira Gomes fizeram nova investida em 30 de dezembro.

Outros cinco ex-assessores presos

Na ocasião, ambos ligaram para servidor da Secretaria Especial de Administração da Presidência da República para pedir que retirasse os bens apreendidos. Mauro Cid agora é suspeito de ter atuado também na falsficação dos cartões de vacinação de Bolsonaro e sua família para que realizassem, no final do ano passado, viagem aos Estados Unidos. O lançamento da fraude no sistema Conecte Sus, segundo a GloboNews, ocorreu em 21 de dezembro.

Os policiais federais também cumprem 16 mandados de busca e seis de prisão preventiva em Brasília em no Rio de Janeiro. Na lista dos detidos está também o ex-policial militar Max Guilherme, ex-assessor especial de Bolsonaro. O militar fazia parte do mesmo grupo de amigos do ex-policial Fabrício Queiroz, pivô do escândalos das rachadinhas. Max Guilherme também foi um dos seguranças que acompanhou o ex-presidente durante sua fuga aos Estados Unidos.

Também foi preso nesta quarta o ex-assessor e segurança do ex-capitão, Sérgio Cordeiro, que esteve na mesma comitiva de Bolsonaro na viagem. Ele ficou conhecido por ceder sua casa para as lives do então candidato à reeleição durante a campanha eleitoral.

A lista de detidos inclui ainda o secretário de governo de Duque de Caxias (RJ), o ex-ajudante de ordens, Luis Marcos dos Reis e o candidato a deputado estadual pelo PL no Rio de Janeiro, em 2022, Ailton Moraes Barros.

Os alvos de busca e apreensão são:

  • Jair Bolsonaro
  • Mauro Barbosa Cid
  • Gabriela Santiago Ribeiro Cid
  • Luís Marcos dos Reis
  • Farley Vinicius Alcantara
  • Eduardo Crespo Alves
  • Ailton Gonçalves Moraes Barros
  • João Carlos de Sousa Brecha
  • Max Guilherme Machado de Moura
  • Sérgio Rocha Cordeiro
  • Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva
  • Marcelo Fernandes de Holanda
  • Marcello Moraes Siciliano
  • Camila Paulino Alves Soares
  • Guttemberg Reis de Oliveira

Publicado em Rede Brasil Atual

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