De ídolo do Palmeiras a gado de Bolsonaro: Por que o goleiro Marcos desceu tanto? Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 19 de junho de 2020 às 13:49
Marcos e o tapete de casa: de ídolo do Palmeiras a gado bolsonarista

O goleiro Marcos escancarou o que muitos na torcida do Palmeiras já sabiam. Ele nunca foi porco (no sentido de palmeirense), mas gado. Gado do Bolsonaro.

Ontem, enquanto as TVs mostravam a prisão do operador da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, ele foi ao Instagram postar o tapete que tem em sua casa.

“Se veio aqui falar mal do Bolsonaro, desculpa, mas veio no lugar errado (sic)”.

Como convém ao gado, o tapete tem ainda o desenho de uma arma.

Na própria rede social do ex-goleiro, teve gente que o criticou e ele respondeu com o costumeiro “vaza”. Bolsonarista-raiz.

Não é a primeira vez que ele externa seu amor por Bolsonaro — mas antes era de forma sutil. No início do mês, em resposta a uma postagem dele, um torcedor lembrou que, por pouco, Marcos não jogou no Corinthians, maior rival do Palmeiras.

Marcos, então, chutou o pau da barraca.

“Se fosse hoje acho que jogava mesmo, principalmente em ver o bando de Zé ruela que virou nossa torcida, por isso, meus ídolos são outros, os que lutam não os que choram (sic)”, escreveu.

Mais tarde, se desculpou, por ter generalizado e afirmou que há “um processo de desconstrução da minha imagem”. Para ele, a razão é política.

Quem desconstrói a própria imagem é Marcos, e ele corre o risco de perder o elevado cachê que cobra para comparecer a eventos relacionados ao Palmeiras — inauguração de loja, lançamento de livro, festas.

Por menos de R$ 15 mil, Marcos não sai de casa.

Por respeito ao clube que lhe proporcionou fama e uma vida confortável, o goleiro deveria ser mais comedido. Afinal, desde sua fundação, em 1914, o Palmeiras reúne diferentes correntes políticas.

Entre os quatro fundadores do clube, Vicenzo Ragognetti e Ezequiel Simoni eram o que hoje se poderia chamar de “progressistas”.

Ragognetti era jornalista, autor de textos provocativos em relação à elite paulistana. Simoni era anarquista.

Ademir da Guia, um dos maiores ídolos de todos os tempos, se elegeu vereador em São Paulo pelo PCdoB, em 2004.

Ao se comportar como gado apaixonado por Bolsonaro, Marcos não honra as tradições do clube. Pode ser que tenha alguma vantagem, mas, certamente, nenhuma vale manchar a própria história de maneira irreversível.

Marcos Roberto Silveira Reis já foi Marcão ou São Marcos. Agora é o Marquinhos bolsonarista, que enfrenta adversários que só existem na cabeça dele e de seus novos companheiros, como Sara Giromini, a Sara Winter, Cristina Rocha, a Mulher do Taco, ou o Renan Sena, aquele que cospe em enfermeira.

Ah, mas tem o Felipe Melo.

Sim, mas este, prestes a se aposentar, não fez história nem fará história no clube.