De superministro Moro se transforma numa triste figura decorativa. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 9 de maio de 2019 às 14:26
Sem moral

Costuma-se dizer que entre a expectativa e a realidade existe sempre um duro caminho a percorrer.

Que o governo Bolsonaro nunca inspirou lá grandes expectativas para quem possui mais do que dois neurônios em exercício, é uma verdade inconteste.

Mas que para alguns incautos a presença previamente negociada do ex-juiz Sérgio Moro dava aquele ar da graça numa dita “nova política” que já nasceu à base de formol e naftalina, é algo que não podemos desconsiderar.

Pois bem! Passados pouco mais de quatro meses e já várias derrotas políticas no currículo, uma das estrelas do bolsonarismo amargou hoje (9) aquilo que poder-se-ia dizer como o penúltimo prego no seu caixão das vaidades.

Ávido por manter o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) na pasta da Justiça, Moro, e o governo, viram a comissão do Congresso que analisa a medida provisória jogar uma primeira latada de água fria em suas pretensões.

Por 14 votos a 11, a comissão entendeu que o Coaf deve voltar às suas origens no ministério da Economia.

Ainda que muito dificilmente a situação possa ser revertida nos plenários da Câmara e do Senado, essa mudança representa derrotas inerentes para Moro e para o governo por questões pontuais.

Para Moro porque além de sair desmoralizado, retira de suas mãos o poder de devassar a vida de todos os brasileiros, mais especificamente aqueles que não compartilham de sua visão política do mundo.

Para o governo porque sem a rédea curta que se manteria sob a pasta de Moro, perde de certa forma o conveniente controle de um órgão que conseguiu detectar, por exemplo, as movimentações suspeitas de um tal Queiroz.

De um lado a outro, é mais um recado do parlamento.

Prejuízos políticos contabilizados, resta a análise do caso sob o ponto de vista moral.

Para Bolsonaro que não faz a menor ideia do que venha a ser isso, é só mais um revés sem maior relevância.

Para ele, enquanto estiver destruindo a educação, a economia, o meio-ambiente, as políticas de inclusão social e as propagandas televisivas de empresas públicas, está valendo.

Já para Moro, queira ou não, é um baque mais acentuado.

Para quem sonhou ser o fio da navalha, de superministro se vê melancolicamente se transformar numa triste, pobre e patética figura decorativa de um governo sabida e comprovadamente corrupto e incompetente.

É um fim miserável para quem já foi o “herói nacional” da classe média podre do Brasil.

Em última instância, poderíamos dizer que representa uma espécie de justiça poética onde um homem que já era insignificante passa a uma condição ainda mais deplorável.

Exatamente como a do personagem Gregor Samsa que numa certa manhã se descobre metamorfoseado numa imunda barata naquela célebre novela de Franz “kafta”.