De uma só vez Bolsonaro desagradou à fé e ao dinheiro. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 1 de abril de 2019 às 16:30
AFP / Jack GUEZ O presidente brasileiro Jair Bolsonaro é recebido pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, em 31 de março de 2019

É sabido que quem quer agradar a todos, não agrada a ninguém.

Jair Bolsonaro, com a sua incrível inaptidão para o concílio, rebaixou essa máxima e mostrou que é possível desagradar a todos mesmo só querendo agradar a poucos.

Foi o que já fez antes mesmo de terminar mais uma peregrinação de subserviência onde brasileiros bancam um Chefe de Estado para que ele anuncie mundo afora o quanto podemos nos diminuir frente aos interesses estrangeiros.

Sua viagem a Israel vai se revelando mais um desastre político, econômico e diplomático com consequências para a nossa balança comercial que podem beirar a tragédia.

Ao anunciar a abertura de um escritório comercial em Jerusalém, o presidente conseguiu unir em uma única sala, uma despesa desnecessária para o erário público, a ira do povo árabe cujas importações de produtos brasileiros somam bilhões de reais e a descrença de evangélicos fanáticos que esperavam a mudança imediata da embaixada de Tel Aviv.

A incompetência do homem atinge patamares nunca antes escalados.

Não existe uma única razão plausível que justifique essa decisão a não ser a constatação plena que o Brasil hoje caminha numa corda bamba entre os disparates de suas promessas de campanha e a voz que ecoa dos exportadores clamando por um mínimo de racionalidade.

Transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém faz parte de um portfólio de insanidades dirigidas a uma classe de evangélicos que trocam seus votos por um terreno imaginário no céu.

Ao não transferi-la, trai a “fé” de uma ala importante pela sua eleição. Ao abrir um escritório, trai um mercado bilionário que garante riqueza e emprego no país.

De um lado a outro, perde o Brasil ao abdicar de sua histórica isenção e capacidade de dialogar com ambas as partes envolvidas e não só tirar proveito dessa relação, mas também se posicionar como uma voz moderada num conflito milenar.

Insatisfeitos todos os brasileiros, a viagem só não vai ser de toda perdida para o staff de Jair Bolsonaro porque no final das contas, as únicas duas pessoas com quem ele de fato está preocupado saem gratificadas.

Benjamin Netanyahu que está em franca campanha política e agora exibe o seu chaveirinho na América do Sul e, claro, Donald Trump, o presidente de fato do Brasil.