Debate sobre as causas da crise precisa ser desinterditado. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 1 de setembro de 2019 às 14:59

Publicado originalmente no perfil de Facebook do autor

POR GILBERTO MARINGONI

O DEBATE SOBRE AS CAUSAS DA CRISE PRECISA SER DESINTERDITADO

Um dos mais notáveis argumentos para se interditar o urgente debate sobre o balanço das opções da esquerda que nos levaram à situação atual é o mantra “O governo Dilma II” não existiu.

Através dele, tenta-se passar a Ideia de que as pautas-bomba colocadas no Congresso por Eduardo Cunha e pela direita inviabilizaram a gestão da ex-presidenta.

É um argumento que conforta a alma, mas impede a formulação de alternativas para a crise atual e nos leva a um beco sem saída. Se não soubermos de onde viemos, não saberemos onde estamos e para onde vamos. É algo óbvio, mas negado por quem tenta interditar o debate.

As mentiras propagadas na campanha de 2014 – emprego e desenvolvimento -, a escolha de Joaquim Levy, o aumento constante da taxa básica de juros três dias após a vitória, o tarifaço de janeiro de 2015, a lei antiterrorismo e o objetivo de se elevar o desemprego para esfriar a demanda (que se via como inflacionária) são decisões anteriores às pautas-bomba.

Reclamar que o inimigo é mau nunca nos leva a bom termo. Inimigo que não é mau com a gente não é inimigo que preste. A tática política deve ter sempre em mente o objetivo de derrotar o inimigo, mesmo ele cometendo os maiores desatinos.

As opções tomadas em 2014-15 elevaram a taxa de desemprego de 6% em dezembro de 2014 para 11% em março de 2016. Essa queda vertical na qualidade de vida de milhões de pessoas fez com que a base social do PT em grande parte rompesse com o governo Dilma, tornando-o vulnerável à direita. Nos últimos três anos, a taxa de desemprego subiu para 13%. Há certa estabilização na piora. Ou seja, a percepção popular é que a grande quebra aconteceu lá atrás.

É bem possível que o PT – e os partidos de esquerda que participaram de sua administração – tenham tirado a defesa do emprego do foco de suas bandeiras imediatas por saberem que mais dia menos dia as responsabilidades aparecerão.

Já escrevi anteriormente: balanços honestos são doloridos. Não devem servir para que se façam acusações de dedo em riste para um ou para outro. Avaliar o passado é a única maneira de planejarmos o futuro de forma consistente.