Estão fazendo gaslighting com Dilma. E a quem isso surpreende?
Um parêntese: gaslighting é uma forma de abuso psicológico que consiste em distorcer informações para fazer com que a vítima duvide de sua própria sanidade. Em outras palavras, é o ato de associar as atitudes femininas à loucura ou descontrole emocional como forma de mascarar o abuso.
A essa altura, ler uma matéria em que chamam a Presidenta de louca beira o clichê: é exatamente o que se espera de uma mídia desesperada. Que meta os pés pelas mãos e seja incapaz de disfarçar o sexismo embutido no discurso pró-golpe.
Afinal, temos uma direita que manda a Presidenta da República tomar no c* em um estádio de futebol lotado, em que xingamentos como “vagabunda” e “sapa gorda” são proferidos sem cerimônia e a mídia discute as roupas, o estilo pessoal e a sexualidade de Dilma como se isso de fato importasse.
O que assusta – embora não exatamente surpreenda – é que uma mulher protagonize e fortaleça esse discurso.
Estou falando de Débora Bergamasco, que, recentemente, sentiu na pele os efeitos do machismo quando internautas associaram o furo de reportagem de sua matéria sobre a delação de Delcídio Amaral à sua vida pessoal e, agora, compara Dilma a “Maria I, a Louca”, ao dizer que a Presidenta tem agido de maneira “ensandecida” diante da eminência de perder o poder, tal qual a dita primeira rainha do Brasil.
Fortalecer um discurso opressor e sexista não é privilégio de Débora: como ela, muitas mulheres oprimem suas semelhantes, muito embora reconheçam – e incomodem-se – com a opressão sofrida por elas próprias.
Eu diria, não sem algum pesar, que este não é apenas um paradoxo ideológico: é o mais odioso mau-caratismo intelectual.
Débora Bergamasco tem a exata noção do que configura um abuso – tanto que não se quedou quando doeu o seu próprio calo – mas se coloca na posição de abusadora na primeira oportunidade.
Esta não é, infelizmente, apenas uma mulher consciente da opressão de gênero, mas confusa e turvada pela alienação patriarcal: ela sabe o que está fazendo. Ela é uma amostra das tantas mulheres que utilizam um discurso de igualdade apenas ao próprio favor, e esquecem-se de que a luta por igualdade de gênero exige, antes de tudo, empatia.
É apenas mais uma que pensa lutar contra o abuso – pelo simples fato de conhecê-lo – mas trata – ardilosa e conscientemente – de promovê-lo quando lhe parece conveniente.
Débora B é apenas mais uma capitã-do-mato que violenta os próprios semelhantes a mando de seu Senhor.
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