Decidimos interromper a hegemonia branca na política, diz Vilma Reis. Por José Eduardo Bernardes e Igor Carvalho

Atualizado em 10 de setembro de 2020 às 8:25
Vilma Reis é pré-candidata à prefeita pelo PT: “Nós não podemos aceitar que 15% de representação branca tenham a hegemonia na nossa cidade” / José Eduardo Bernardes

PUBLICADO NO BRASIL DE FATO

POR IGOR CARVALHO E JOSÉ EDUARDO BERNARDES

Durante o encontro internacional da Coalizão Negra por Direitos, no mês de novembro, em São Paulo, o movimento negro definiu como uma prioridade a conquista de espaços representação política.

O foco na busca por representatividade ocorre em um dos momentos mais atuantes da história recente do movimento negro. Nos últimos meses, militantes estiveram em Brasília, onde combateram o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro e lutaram contra o acordo que pode resultar na entrega da Base de Alcântara aos Estados Unidos e na expulsão de quilombolas de seus territórios.

No exterior, o movimento denunciou o genocídio contra a população negra brasileira em ambientes até então ocupados somente pela branquitude brasileira, mesmo que de esquerda. Organização das Nações Unidas (ONU), Organização dos Estados Americanos (OEA), o Parlamento Europeu e até o Congresso dos Estados Unidos foram visitados pelos militantes.

Na linha de frente dessa articulação está a socióloga Vilma Reis, que exige mudanças no comando de Salvador, a capital mais negra do país.

Pré-candidata, ela pretende se tornar a primeira prefeita mulher e negra da história da capital baiana, atualmente governada por Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), herdeiro da elite política branca que há décadas manda no estado.

Não é um ambição pessoal, mas uma demanda do movimento, explica Vilma Reis.

“Nós não podemos aceitar que 15% de representação branca da cidade de Salvador, e os homens brancos que são uma minoria entre os brancos, tenham a hegemonia na representação da nossa cidade. Nós, do movimento de mulheres negras, em um ato de desobediência colonial e patriarcal, decidimos interromper essa hegemonia absoluta.”

Um dos primeiros obstáculos, conta Reis, é enfrentar o domínio branco, mesmo nos partidos de esquerda. “Todas as carreiras dos brancos progressistas nesse país, nós construímos, todas. O nosso entendimento agora é que não é mais possível nos pedir para esperar, toda construção dos movimentos que vêm da rua para dentro dos partidos é que não haverá nada sobre nós, sem nós”, explica Reis.

A socióloga pretende ser candidata pelo Partido dos Trabalhadores, ao qual é filiada desde 2007. Porém, o partido ainda não decidiu quem vai liderar a chapa para as eleições de 2020. Juca Ferreira, que recentemente foi demitido por Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte, da Secretaria de Cultura do município, é considerado um nome forte dentro da legenda na disputa pela capital baiana.