Decisão do MASP desrespeita a história do MST, diz movimento

Confira nota do MST sobre a atitude excludente da direção do MASP contra a realização do Núcleo “Retomadas”, como parte da mostra Histórias Brasileiras

Atualizado em 12 de maio de 2022 às 21:04
Militantes durante o percurso da Marcha Nacional por Emprego, Justiça e Reforma Agrária

O MST divulgou uma nota nesta quinta-feira (12) criticando a decisão do MASP de vetar fotos do movimento em um dos núcleos da exposição Masp “Histórias Brasileiras”, prevista para julho deste ano.

Segundo a Folha de S.Paulo, artistas e outros envolvidos no núcleo chamado “Retomadas” receberam a informação de que as obras não poderiam fazer parte da exposição por email assinado pelas organizadoras dessa parte da mostra, Sandra Benites e Clarissa Diniz, curadora adjunta e curadora convidada da instituição.

Elas afirmaram que “apesar do cuidadoso trabalho realizado, para a nossa surpresa, o Masp não concordou com a integral inclusão da representação das retomadas pelo suposto descumprimento de um prazo que não nos foi informado pela produção ou pela curadoria do museu”.

Confira a nota do MST sobre o assunto

Da Página do MST

Viemos, através desta declaração, manifestar nossa indignação com a atitude da  direção do MASP que levou a impossibilidade de realização do Núcleo “Retomadas”,  como parte da mostra Histórias Brasileiras. 

Como informa e-mail recebido das curadoras no dia 03/05/2022, sob alegações de  cunho burocrático e legalista que não se sustentam na efetiva realização do projeto, o  MASP inviabilizou a inserção de imagens do Acervo do MST, do Acervo João Zinclar e  de outros acervos que documentam a trajetória do MST e da luta pela Reforma Agrária  no Brasil. 

Somos testemunhas da forma ética e profissional com que as curadoras e os  acervos parceiros se empenharam na produção do projeto, em todas etapas e em acordo  com as demandas da instituição. 

Afirmamos nosso respeito e apoio às curadoras Sandra Benites e Clarissa Diniz,  responsáveis pelo Núcleo “Retomadas”, que diante da atitude do MASP decidiram não  participar da mostra, pois, como declaram: “Aceitar a exclusão das imagens das  retomadas em nome da permanência do núcleo nos levaria a ser desleais com os sujeitos  e movimentos envolvidos na nossa curadoria – contradição que não estamos dispostas a  negociar por não concordar com tamanha irresponsabilidade.” 

Como afirmam as curadoras: “O Retomadas é sobre a urgência de revermos as  éticas e políticas coloniais de nossos territórios, línguas, corpos, representações e museus.  Do nosso ponto de vista, mantê-lo à revelia da representação das próprias retomadas que  lhe dão título, argumento e sentido social nos levaria a ser anti-éticas em nome da ética,  excludentes em nome da inclusão, não-representativas em nome da representatividade,  expropriadoras em nome da não-apropriação, silenciadoras em nome da voz. Nos levaria,  por fim, a praticar a colonialidade contra a qual o núcleo se insurge”. 

O material selecionado pelas curadoras – imagens fotográficas, cartazes, cartilhas  e jornais impressos – são testemunhos da capacidade da classe trabalhadora de se  apresentar firme e altiva como sujeito de sua história, em todos os sentidos. 

Destacamos que ao inviabilizar a inserção da totalidade desses documentos o que  de fato se efetiva é a exclusão de um dos maiores movimentos sociais da história  contemporânea brasileira e latino-americana. Decisão que aponta para uma construção de  conhecimento histórico distorcido e comprometido com uma cultura deturpadora da real  complexidade da história política brasileira. Atitude que, no mínimo, está em desacordo  com a função social de uma instituição museológica que se apresenta em seu site com a  seguinte missão: “O MASP, Museu diverso, inclusivo e plural, tem a missão de  estabelecer, de maneira crítica e criativa, diálogos entre passado e presente, culturas e  territórios, a partir das artes visuais. Para tanto, deve ampliar, preservar, pesquisar e  difundir seu acervo, bem como promover o encontro entre públicos e arte por meio de  experiências transformadoras e acolhedoras. ” 

Portanto, questionamos a atitude excludente da direção do MASP, apontamos a  gravidade deste tipo de construção de conhecimento que invisibiliza a luta da classe  trabalhadora e chamamos toda a comunidade cultural e entidades que representam as lutas  do povo brasileiro para este debate, que se reveste da urgência de não ceder à censura e  ao apagamento de nosso maior patrimônio: nossa capacidade de luta organizada para  construir um outro modelo de sociedade.  

Pátria Livre, Venceremos! 

Acervo João Zinclar
Coletivo de Arquivo e Memória do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Nota publicada originalmente no site do MST

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