“Declaração escrota”: o grampo em que Aécio e Zezé Perrella falam de campanhas e do Helicoca. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 27 de maio de 2017 às 18:48
“E aí, chefe, tudo bem”

A nota foi publicada no site Poder360 e trata do grampo de uma conversa entre Aécio Neves e Zezé Perrella.

Aécio estava transtornado com uma entrevista do parceiro à rádio Itatiaia, de Minas Gerais, em que ele se gabava de não estar na lista de Janot e lamentava o “mar de lama” do Brasil.

Perrella o atende com um subserviente “E aí, chefe, tudo bem?”

Toma uma enquadrada épica. “Olhe, poucas vezes eu vi uma declaração tão escrota”, diz Aécio.

O amigo responde que era uma maneira de rebater “as coisas que falam de mim até hoje por causa do helicóptero” (o Helicoca).

Em 13 de abril, 2 dias depois de cair o sigilo da delação da Odebrecht, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) ligou para Zezé Perrella (PMDB-MG) e disse: “A tua [campanha] foi [financiada] exatamente como a minha e do Anastasia”. Aécio reclamava de declarações do colega à rádio Itatiaia, de Minas Gerais. O peemedebista havia dito que o país atravessava “um mar de lama” e acordava “estarrecido” com a lista de Janot.

O diálogo foi grampeado pela PF e divulgado pelo STF no caso FriboiGate. Ouça a íntegra do telefonema e a declaração de Zeze Perrella à rádio (a partir de 4min20seg).

Aécio fala a Perrella no grampo: “Olhe, poucas vezes eu vi uma declaração tão escrota”. Político com maior número (5) de pedidos de investigação na lista, o senador afastado questiona o colega:

“Ou você acha que nós agimos como esses caras aí? Estão misturando financiamento de campanha com essa roubalheira que fizeram no Brasil. (…) E você tá fora [da lista de Fachin] ótimo. Acho maravilhoso”.

Aécio e o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) são suspeitos de receber dinheiro via caixa 2 da Odebrecht. Nesta 6ª feira (26.mai.2017), a Polícia Federal disse ter encontrado no apartamento do senador afastado, no Rio, 1 documento com a seguinte anotação: “cx 2”.

Na ligação grampeada, Aécio cobra solidariedade do aliado. “A não ser, Zezé, que a sua campanha foi financiada na Lua, ou pela [empresa de] semente lá sua, ou pela quentinha do Alvimar. Nossa campanha foi a mesma, Zezé”, disse.

Perrella sugere a Aécio que a declaração foi 1 modo de rebater acusações que recebia. Em 2013, helicóptero de empresa da sua família foi apreendido com mais de 400 kg de cocaína:

“Qual a maneira que eu encontrei de rebater… Essas coisas que eles falam de mim do helicóptero até hoje”, disse Perrella.

Ou seja, Aécio dá orientações a Zezé, a quem vê não com muito respeito, sobre como usar a hipocrisia direito.

Vale lembrar que Aécio foi gravado, em março, pedindo a Joesley Batista, da JBS, R$ 2 milhões de reais para o custeio de sua defesa na Lava Jato — e que a mala de dinheiro entregue ao primo Fred foi parar, na verdade, nas mãos de Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar de Perrella.

Segundo a PGR, Mendherson levou de carro a propina a Belo Horizonte. O assessor negociou para que a grana fosse para a Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella, filho de Zezé.

Segundo os investigadores, a empresa de Gustavo pode ter sido usada para lavar dinheiro da propina da JBS.

Quando questionado sobre o depósito pelos procuradores, Fred usou seu direito de ficar em silêncio.

Confira o papo republicano entre os dois senadores: