
O arsenal do crime no Sudeste ficou mais forte, mais moderno e mais novo após os decretos pró-armas editados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo estudo do Instituto Sou da Paz. A pesquisa indica que a flexibilização no acesso a armamentos alterou o perfil das armas apreendidas e impulsionou a migração de modelos recém-adquiridos no mercado legal para o universo criminal.
O levantamento, que analisou 255,9 mil apreensões entre 2018 e 2023, mostra que pistolas 9 mm tiveram salto expressivo após a norma assinada por Bolsonaro em 2019. Elas representavam 28,5% das apreensões de pistolas no Sudeste em 2018 e passaram a 50,5% em 2023, mesmo sendo antes restritas a forças policiais e militares.
Paralelamente, revólveres perderam espaço: de 42,2% para 37,6% no período. Em São Paulo, a tendência se repete, com a participação das 9 mm nas apreensões saltando de 8,4% para 37,2%.
O estudo revela que as armas apreendidas são cada vez mais recentes. Em 2018, 170 armas fabricadas até dois anos antes da apreensão foram retiradas de circulação em São Paulo; em 2023, o número subiu para 843.
Para o instituto, isso indica que “armas recém-adquiridas no mercado legal estão migrando rapidamente para o universo criminal”. Fuzis também tiveram aumento: foram 4.444 apreensões no Sudeste, das quais 910 em São Paulo, passando de 0,9% para 1,5% das apreensões no estado.
Fabricantes clandestinos e impacto dos CACs
O número de armas artesanais caiu, mas elas permanecem relevantes pela alta potência — como demonstra o caso da fábrica clandestina desmontada pela PF em Santa Bárbara d’Oeste.
O estudo lembra que um dos decretos de Bolsonaro permitiu que CACs comprassem até 5.000 munições de uso permitido por ano, o que, segundo o pesquisador Bruno Langeani, gerou “quantidades absurdas” e favoreceu esquemas com “laranjas”.
Relatório do TCU também identificou 2.579 pessoas mortas registradas como CACs e mais de 9 mil foragidos com autorização para possuir armas.

Armas ilegais nas casas e circulação pelas rodovias
A pesquisa mostra que o crime armado não está restrito às organizações: 31,8% das apreensões em São Paulo ocorreram em residências. Rodovias também aparecem como pontos estratégicos, sugerindo circulação de armas para o Rio de Janeiro e o Nordeste.
A capital paulista lidera apreensões absolutas (14.842 entre 2018 e 2023), mas Guaratinguetá tem o maior índice proporcional. A PM responde por 72% das apreensões no estado, contra 14,9% da Polícia Civil, o que, segundo Langeani, evidencia fragilidades na política de fiscalização de armas.